O lema exemplar da Sailor Moon
"Sou uma guerreira que luta pelo Amor e pela Justiça! Sou Sailor Moon, e punirei você em nome da Lua!"
O universo, ou gênero se preferem, dos super-heróis, sempre foi deficiente em termo de enredos, mas no passado tinha mais inocência. Nas décadas mais recentes foi se tornando cada vez mais um palco de violência, agressividade, cinismo e contra-cultura.
Lembro de quando um amigo, anos atrás, emprestou-me um álbum colorido, luxuoso, do grupo Watchmen, criado pelo desenhista norte-americano Alan Moore. Eu não conhecia Watchmen e comecei a ler com curiosidade. Havia contos e quadrinhos. A decepção foi grande, pois as histórias eram sórdidas e mostravam um universo sem amor, onde os pretensos heróis eram quase tão cruéis quanto os criminosos. Lembro especialmente a maneira como uma mulher tratava seu filho ainda criança, sem demonstrar nenhum amor por ele.
Watchmen é o supra-sumo do culto à violência dos quadrinhos e filmes de super- heróis. Mas também X-Men, Liga da Justiça, Cavaleiros do Zodíaco, não ficam muito atrás. São escolas de brutalidade e contra-valores.
Em tal contexto surpreende a existência de uma super-heroína como Sailor Moon, a Princesa da Lua Branca, criada em 1991 no Japão pela desenhista Naoko Takeushi. Herdeira do místico Reino Lunar, Sailor Moon (Usagi Tsukino) declara-se uma guerreira "que luta pelo Amor e pela Justiça". Ao longo da saga ela repete muitas vezes esta frase, numa constante invocação de valores básicos defendidos também pelo Cristianismo.
Amor e Justiça complementam-se de tal maneira que não podem existir separadamente. A tal Liga da Justiça da DC esquece certamente do Amor para temperar a Justiça. Daí a extrema brutalidade da animação que mostra Batman e Super-Homem como inimigos públicos, enfrentando outros super-heróis, ou do filme "Batman vs Superman", onde os dois se digladiam.
É mais fácil Sailor Moon chorar que mostrar-se violenta. Existem cenas de profundo enternecimento na franquia. A Princesa tem grandes poderes mas de nível espiritual, não poderes imanentes, materialistas, como os do Superman ou do Homem Aranha. Embora ela combata, utiliza os poderes do Amor e da Luz. Suas armas são o cetro e a tiara lunares, o Sagrado Cristal de Prata e o Cálice Sagrado (Santo Graal). A saga de Sailor Moon é a batalha da Luz contra as Trevas, pois ela combate não bandidos, super- vilões, monstros ou invasores alienígenas, mas demônios e seres humanos com eles pactuados. Esse aspecto espiritual da saga deve-se ao fato de Naoko Takeushi ter sido sacerdotisa xintoista.
A heroína trabalha em grupo e existe entre ela e as demais "sailors" (Mercúrio, Marte, Júpiter e Vênus) uma profunda coesão e afeição mútuas, além de impecável senso de dever. Ternura, respeito, alegria, lealdade e humor são constantes na série, além do romance entre Sailor Moon e Mamoru Chiba, amor aos animais (representados pelos gatos falantes da Lua) e a presença singela da filha de Sailor Moon, Chibiusa.
Sailor Moon não hesita em defender a Terra e a Humanidade, mas quando possível purifica os inimigos, não sendo nenhuma justiceira implacável. E é ingênua o bastante para enrubescer em certas situações.
Quem conhece as revistas de super-heróis que envenenam nossas bancas ou os filmes que empestam nossas telas sabe o quanto é difícil encontrar nesse ambiente mensagens de amor "ágape" embora haja sensualidade, e coisas pesadas que crianças e adolescentes nem deveriam ler. Por isso é especialmente importante existir a alternativa de uma heroína que "luta pelo Amor e pela Justiça" e que transmite bondade. Honestamente qual é o super- herói norte-americano que transmite bondade? Eles no máximo mostram coragem e legalismo, mas isso não é o bastante e não ilude o culto à violência.
Comparada com eles Sailor Moon é algo essencialmente diferente, uma mensagem de amor em meio a um universo de intolerância e brutalidade. Reparem na figura de um coração formada em sua testa pela tiara e penteado, e na singeleza que a personagem transmite, diferente das carrancas e músculos retesados que os super- heróis geralmente exibem.