FARO DE CÃO É PARA SEMPRE...

Há muitos anos eles eram nossos vizinhos de porta.

Tratava-se dum casal com um cão ainda bebê, mas bem parrudo- O LEOZINHO- e eu não saberia dizer com exatidão qual a sua genealogia, talvez, pela aparência, se tratasse dum Buldog Francês.

Ademais, alguns detalhes da existência são totalmente dispensáveis quando o mérito é construir "laços afetivos".

Eu sabia da sua força porque, certa vez, ao abrir a porta que acessava o "hall" social do elevador, o cãozinho disparou para dentro da minha sala e quase me derrubou.

Queria brincar, eu sei. E talvez sentira no faro o perfume de bolo.

Ficamos amigos.

Dali pra frente, todas as vezes que a porta da sala do vizinho se abria eu ouvia o Leozinho farejar a minha porta e nela bater com suas patas sempre apressadas.

Vez ou outra eu a abria para a visita festeira entrar e então a festa era certeira.

Eu o sentia meio ansioso, talvez pela vida urbana mais restrita aos apartamentos.

Às vezes, na sacada do nosso apartamento, eu me punha a cantar e ele começava a latir alto lá na sacada dele, desenfreadamente, e claro, apenas o Leozinho poderia dizer se latia para me aprovar ou me reprovar na minha cantoria.

O tempo passou, Leozinho se mudou dali com sua família e não pudemos nos despedir porque sua mudança ocorreu durante uma nossa ausência de férias.

Dia desses, andando num parque enorme de Sampa, observei que um cachorro grande se soltou dos donos como um tiro vindo em disparada, de lá longe; e agilmente veio a ter comigo na pista de caminhada.

Assim que chegou, freou sua corrida , encostou em mim e baixou a cabeça.

Era o Leozinho já bem crescido!

Seus donos logo vieram atrás dele e devido às máscaras respiratórias não percebi de imediato de quem se tratava, mas o Leozinho, ah, esse era identidade inesquecível.

Amigos, nós nos reconhecemos de imediato.

Pelo tempo, sei que já colocou seu focinho no mundo mas, no faro fino, conseguiu se lembrar da sua ex- vizinha...

Então, todos nós nos cumprimentamos com extrema surpresa e eu levei para casa a lição que nos fica, à nossa HUMANIDADE cada vez mais BÉLICA: a de que, faro de cão é certeza de paz, carinho e amizade eternos.

O disparo deles é tiro...mas só de alegria.