A Fé acima da própria Vida!

De repente, eu me vi adulto, crescido, apto para assumir as responsabilidades requeridas de um jovem em nossa cultura de regime patriarcal.

Confesso não ter sido muito fácil, principalmente por causa da convulsão social criada pelas lideranças religiosas que, movidos pela inveja perseguiram e condenaram à morte o Nazareno chamado Jesus.

Naqueles dias, mesmo tendo presenciado uma sequência infindável de atividades extraordinárias praticadas por Jesus no meio do povo, incluindo até a ressurreição de um jovem conhecido na sociedade como filho de Simão, o leproso, ainda assim o condenaram à morte. Por conta disso, muitos que creram em Jesus acabaram ocultando o seu sentimento em relação a ele, evitando confessar a sua fé para não serem expulsos da sinagoga.

Na verdade, esta atitude aparentemente covarde ou, no mínimo, tímida e amedrontada tinha razão de ser, pois em nossa cultura religiosa quem fosse expulso da sinagoga poderia até mesmo sofrer o castigo do apedrejamento por ser considerado herege, uma espécie de traidor dos costumes e da religião instituída pelo sacerdócio e institucionalizada pelos mestres da Lei.

Eu era muito jovem, porém, após ser convencido pelo estudo das Escrituras e presenciado os acontecimentos relativos ao Nazareno, não tive dúvidas e decidi abraçar a minha fé naquele que se dizia ser o Filho de Deus. Não posso dizer, para ser bastante sincero, que eu tenha sido um dos seus seguidores nas suas andanças pela Palestina, mas aproveitei cada oportunidade para ouvir os seus ensinamentos, seja em Jerusalém ou nos arredores da cidade em suas visitas às sinagogas locais.

Numa dessas ocasiões, em conversa informal com seus discípulos mais diretos, eu soube que o Mestre teria dito que chegaria um tempo em que os seus discípulos haveriam de ser perseguidos até à morte, e que os seus perseguidores fariam isto pensando estar prestando culto a Deus.

Aquilo me pareceu absurdo, mas não chegou a me intimidar pois a minha decisão de seguir o Mestre já estava tomada e, custasse o que custasse, eu não retrocederia e nem negaria a minha fé por causa das dificuldades, das incompreensões ou das perseguições.

Mal sabia eu que os acontecimentos daquela semana fatídica da crucificação precipitariam na comunidade o que Jesus dissera sobre as perseguições.

Amigos meus e da nossa família precisaram fugir de Jerusalém, principalmente os judeus helenistas que passaram a ser discriminados por terem adotado nomes e costumes gregos, como o meu caso, pois, afinal, o meu próprio nome, Estêvão, era helenista ou, grego.

Em meio a toda esta confusão, tendo alcançado a minha maioridade social completando os meus trinta anos de idade, fui indicado pelo colégio de discípulos de Jesus para integrar o primeiro grupo de observadores e diáconos cuja função principal seria cuidar e prestar assistência às viúvas que integravam a igreja recém nascida em Jerusalém.

Eu já tinha ouvido Tiago, irmão do Senhor e uma das colunas da Igreja, discorrer sobre a importância do serviço cristão voltado para a assistência aos menos favorecidos. Ele escreveria mais tarde, o seguinte:

"A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo." E ainda acrescentaria a observação de que "a Fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta!"

Desta forma, fui escolhido para integrar o primeiro grupo de diáconos mediante o reconhecimento de ter o bom testemunho da minha fé mediante ação do Espírito de Deus e agindo com sabedoria no cumprimento das minhas tarefas e do meu serviço na Igreja.

Aquela dedicação custou-me a liberdade e viria a custar-me a vida, caso nela eu insistisse. Fui preso e conduzido ao Sinédrio, instância maior de juízo entre os judeus. Fui argüido duramente sobre a minha Fé em Jesus e chegaram até a subornar pessoas que, enfim, me acusaram de sedição e blasfêmia contra Moisés e contra Deus.

E, aqui, faço uma pausa para expressar a minha reflexão pessoal acerca dos que me acusavam mediante suborno. Pessoalmente, eu não acredito que a mentira possa prevalecer sobre a Verdade, razão porque sustentei diante de todos a minha convicção de estar correto ao me dedicar à prestação da assistência aos necessitados, contra tudo o que a religiosidade institucional deixava de fazer por conta dos interesses particulares e da sede pelo poder.

Fui condenado depois de expor veementemente o histórico macabro e criminoso das autoridades eclesiásticas, desde a sua origem até os nossos dias, acusando-os de serem culpados e réus do assassinato de Jesus que foi crucificado por causa da inveja e arrogância dos líderes estatizantes, encastelados na redoma do poder temporal, efêmero, passageiro e corrupto.

Em meu último discurso, eu lhes disse: "Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo! Qual dos profetas os seus antepassados não perseguiram? Eles mataram aqueles que prediziam a vinda do Justo de quem agora vocês se tornaram traidores e assassinos - vocês, que receberam a Lei por intermédio de anjos, mas não lhe obedeceram."

Aquilo custou-me a vida! Enfurecidos por terem sido acusados por mim e pela própria consciência coletiva, condenaram-me à morte por apedrejamento.

Todos estes acontecimentos haveriam de ser registrados em livro, como o foram, pelo historiador e médico, companheiro do apóstolo Paulo, chamado Lucas.

E, hoje, são resgatados na presente forma para que você, em pleno século XXI creia que Jesus Cristo é o Senhor e que, independentemente das críticas, pressões ideológicas ou perseguições, ser discípulo de Jesus exige compromisso com a Verdade que se expressa pela Fé e que se manifesta na sociedade através das obras que caracterizam o serviço cristão a todas as gerações.

Que Deus ilumine a sua compreensão do que é ser um verdadeiro cristão!

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Verão de 2022

06/02/2022

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 11/02/2022
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