NOSTALGIA IPANEMENSE!

Seis horas da manhã. Abro a janela do quarto e me deparo com o sol.

- Bom dia, Astro Rei! – exclamo abrindo um sorriso.

Ele nada responde. Ilumina-me o rosto como se me beijasse e sinto uma sensação maravilhosa! Dias e dias de chuva e agora, ei-lo de volta. Vou sair por aí, a todos cumprimentando e tendo de me conter para não saltitar como criança levada. Está resolvido. Vou bordejar por Ipanema, coisa que não faço há meses. Andar pelo calçadão ipanemense, sempre acom- panhado pelas Cagarras e tendo a me olhar, do alto de sua imponência, o Dois Irmãos, que Tom Jobim, quando adolescente, disse uma vez para sua irmã, Helena Isaura, apontando para os morros:

- Olha, Nena aqueles somos você e eu!

Quem sabe o Maestro Soberano não me sopra uma canção para eu botar letra? Num dia lindo como esse, vale sonhar.

Depois de beber o mar com os olhos, atravesso a Vieira Souto e vou para o coração do bairro. Ao acessar a Nascimento Silva, o coração bate forte e a memória me toma de assalto. Morei nessa rua por pouco tempo, mas as recordações ficaram engastadas para sempre. O 66 era um prédio simples, Não tinha elevador e naquele tempo as pernas eram vigorosas e me impulsionavam rumo às escadas. Morando ali, conheci aquela que viria a ser minha segunda parceira no dia-a-dia, por uma década e meia. Andar pelo bairro era meu exercício favorito. Ir à praia tornou-se um “saudável vício”. Ali, deixei de ser suburbano de origem e integrei-me no “espírito Zona Sul”, “ranço” que guardo até hoje. Ir à praia era a rotina favorita. Manhã, tarde e, às vezes, até à noite. O barzinho ali perto era o fornecedor de comida e, às vezes, de refrigerantes e cervejas. Passava pela porta daqueles restaurantes, famosos e frequentados pelos meus ídolos, mas a timidez me impedia de entrar

Algumas músicas típicas da Bossa Nova, que eu havia feito, estão arquivadas no meu computador e são mostradas aos mais íntimos, em certos dias em que passo dos limites nas cervejas ou no vinho. Os amigos me perguntam porque eu não publico minhas crônicas, contos e romances e eu, invariavelmente, respondo:

- Porque não tenho padrinho!

De volta à “excursão” por Ipanema.

Tinha a intenção de conhecer a Toca do Vinicius, mas acabei por esquecer. Afinal, lá é o “antro” da saudade e, por que não dizer? Da maravilhosa nostalgia, dos tempos que não voltam mais. Jamais entrei no Plataforma, do Alberico Campana. Nem sei se ainda existe. Uau! Preciso ir a esses lugares senão as pernas não vão obedecer quando eu assim resolver. A rima final foi proposital.

(Outubro, 2021)

Ruy Soares
Enviado por Ruy Soares em 09/02/2022
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