O enterro do gato - BVIW
Tema: verde que te quero verde
Entrei para o banho, e o celular começou a tocar. Deixei pra lá, mas como insistia, resolvi atender, mesmo no box. Minha irmã pedia socorro. Saí esbaforida, peguei o primeiro vestido que vi e esse era novo, presente da minha mãe. Saímos correndo, eu e minha mãe, para o hospital veterinário. O gato da minha sobrinha, o Kenai, estava mal. Esperamos notícias, consolando a mãe e a avó do gato. Choro, expectativa, orações. Duas horas depois, a notícia que não queríamos ouvir. Kenai veio a óbito. Mais choro, desespero, despedida… Diante de tanta dor, mamãe disse que levaríamos Kenai para as exéquias em casa. Partimos para lá. Procura-se o enxadão, a enxada, as forças. Eu pelejando para abrir a cova na hortinha pegada ao muro. Mamãe revezava comigo. Minha irmã, a avó do gato, mole de tanto chorar, só conseguia regar a dor. Quando eu batia o enxadão na terra, essa voava no vestido verde. Olhei para os quiabeiros, verdes e viçosos. Eles seriam as floreiras vivas do túmulo. De relance, vi a rede xadrez de verde pendurada no quiosque, vazia de corpo, como era a minha emoção. E a cadeira de balanço, também verde, sem ninguém descansando nela. E mais verde nos olhos do gato, um dó… pensei: estamos enterrando duas esmeraldas que brilhavam mais que o sol, quando Kenai via um passarinho por perto. Verde, verde, verde! Tanto verde numa cena de velório!