Filhos crescidos - BVIW
Mesmo no desespero financeiro para trocar usados por novos, briguei com o tempo para prestigiar o encontro. Confesso que não tem sido fácil, ainda mais quando o filho assume o lugar do pai e da mãe. E tem que ser assim, cuidar de quem me escolheu para existir. Eles não são mais verdes e viçosos, não dão mais frutos, mas são como barris de Carvalho, guardam maturidade e experiência. Verde que te quero verde só na terra do nunca, pois Sr. Lauro não é Peter Pan, nem Têco é a Sininho, e sinto um certo alívio. Ao menos aprendi a crescer e ter responsabilidades, e os sonhos não se realizam na cama. Na cama encontra-se um pai amoroso, que não anda sem apoio, usa fraldas descartáveis, toma bombinha para o enfisema pulmonar e carrega a sonda como se tiracolo fosse. Voltou a ser criança num corpo de adulto com direito à birra, dengo e manias. Às vezes, dá vontade de colocar de castigo, e umas boas palmadas seriam pecados. Nesses lampejos, percebo que os pais não são eternos, não estarão aqui pra sempre, e o tempo é finito para a matéria. Meu coração quebra só de pensar em não tê-los, não sei o que será daqui pra frente, mas vou brincar de pai e filho, aconchegar eles nos meus braços, meter os meus dedos entre os cabelos brancos, pedi para se cuidarem e gritar eu te amo, pai.