Sonhava ter um telefone

Quando a gente começa a refletir sobre as nossas histórias de vida, por mais simples que elas sejam, conseguiremos encontrar uma série enorme de situações que certamente, quando contadas, encontrarão muita gente que irão sintonizar com as mesmas.

Por toda a infância e a juventude morei na mesma casa, numa vila no bairro Antônio Bezerra, onde cheguei em 1962, com 2 anos de idade, oriundos do São Luís do Curu, no Ceará, cidade onde nasci.

Entrei na faculdade em 1979 e, foi ali que pela primeira vez passei a conviver com pessoas que realmente possuíam uma vida social e financeira, bem superior a minha.

Confesso que isso só mexia comigo quando me deparava com coisas que, de certa forma, impediam minha relação com esses novos colegas.

Imagina só, eu morava numa casa que não tinha água encanada e nem muito menos serviço de esgoto.

A água para beber era comprada de algum local e, não pensem que existiam os modernos garrafões, que hoje é comum a gente encontrar. Até um certo tempo, a água era comprada de um cidadão que passava na rua com um grande barril, transportado numa carroça de tração animal e, que adotava como unidade de medida nossos baldes.

Em casa a água é era colocada num pote, cujo o filtro era um pano “bemlimpim” amarrado na boca.

A água do banho era oriunda de uma cacimba que ficava num terreno nos fundo de nossa vila.

Tinhamos tambores de 200 litros de metal para guardar a água puxada dessa cacimba. A água do banho era colocada numa tina de cimento.

O banho de tina era realizado com uma lata de leite ou óleo, preparada para tanto.

Nossos serviços de esgoto e derivados, aconteciam tendo como suporte uma fossa cavada no quintal e encamisada com anéis de cimento ou, feita de tijolos brancos.

Na verdade essas coisas não me causavam nenhum tipo de constrangimento, tudo era muito natural.

No entanto, um telefone eu sempre sonhei em ter, na verdade eu sentia muita necessidade de usá-lo nas relações com meus colegas de turma e, com outras pessoas que passei a conhecer.

Só que era muito caro para nossa realidade.

Minha mãe recebeu um dinheiro de uma ação trabalhista, movida em 1977 e, por volta de 1981, meu sonho virou realidade.

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