Mudando, reciclando, pensando ...
Há anos que penso em escrever um livro. Qualquer livro, sobre qualquer assunto. Um livro sobre o dia a dia do mundo em que vivemos, a partir do meu próprio mundo. De mim para minha casa, minha rua, meu bairro, minha cidade, minha região, meu estado, meu país e, finalmente, o mundo. Partindo de minha criação, minha infância, meu aprendizado – ou o que me ensinaram - , minha juventude – ou o que não me ensinaram - , as paixões, os amigos, os conhecidos, os parentes, o trabalho e suas nuances, o casamento, o viver junto de alguém, os filhos e a sua criação, o passar do tempo, as decepções, as alegrias, o continuar vivendo junto de alguém, as interferências no continuar a viver junto de alguém, as netas, a opção pelo isolamento, o peso do tempo, a idade, outras decepções, mais decepções, descobertas tardias, a sensibilidade a flor da pele, a falta do que se emocionar, a insensibilidade de um coração endurecido, o medo de perder o medo, o sentido aguçado da vida e da morte.
Mas, num mundo onde tudo é igual, as distâncias são só físicas, as pessoas são só pessoas, governos são só desmandos, minhas escritas não trariam nenhuma novidade, suspense ou ajuda. Oportunistas vazam pelo ladrão de uma caixa de vergonha. Cidadania é palavrão, coisa de reacionário. Respeito é imposto através de autoritarismo e medo. As leis são para atendimento do Estado, pois agem rápido a favor dele e lento contra as pessoas. Então, decidi que ainda vou escrever um livro injetável, com o grande sonho que êle fosse lido, comido e bebido justamente por estes que precisam ler, recebendo e digerindo os recados, as opiniões e as indignações, já que eu estou do lado de cá, das pessoas que lêem, sentem e escrevem. Eles acham que não precisam de leitura, ou, na grande maioria, nem sabem ler. E quem lê mal, entende mal. Quem não lê, nem entende, só pede. Ou dá de graça.
Então, vou escrever um livro. Um que seja injetável. Pelo menos enquanto acreditar em mudanças, como esta que acabo de fazer ... afinal, tudo sempre igual não existe ( nem resiste ) ...