TROPEIRO
TROPEIRO
Quem vive no alto da montanha tem a visão mais aguçada de distância.
Quem vive em região montanhosa tem mais amizade com o vento.
Quem vive sobre os topos das montanhas sabe ler os sinais do tempo com precisão.
Quem vive no alto dos montes sabe apreciar, às vezes com medo, os raios no céu.
Quem vive no coração das alterosas sabe dizer se será um temporal ou alarme falso.
Quem vive lá em cima na serra sabe se o dia será quente, se promete ou não.
Joaquim José do Prado, negro forte, trabalhador, conhecedor da lida rural, voz possante, coração bom, contador de causos, crente forte em superstições, conhecedor de uma boa cachaça, vivia no alto de uma dessas montanhas que ficam agarradas, formando as ondas montanhosas das minas gerais.
Na região era conhecido por Tropeiro, por transportar tropas do Alto Rio Pardo, quando ainda jovem, para as montanhas da Mantiqueira e vender para os lenhadores descer lenhas dos topos rochosos e transportá-las até às cidades próximas para serem consumidas nos fogões de lenha. Uma vez que ainda não existia o gás de cozinha.
Tropeiro era muito conhecido no lugar, fazia previsões do tempo a partir da aba do seu chapéu. Se a aba não estivesse zunindo, não ia chover apenas tempo normal. Se estivesse zunindo ia chover. Se o zunido fosse meio fino a chuva seria mansa. Se o zunido fosse intenso era tempestade. Na maioria das vezes ele errava. Mas não deixava de acreditar em suas teorias meteorológicas.
Tropeiro dizia que na sua juventude ele tinha uma mula preta, por nome de ventania, uma mula marchadeira que ao pisar no chão saía fogo do rompão das ferraduras. Ela atravessa o rio Pardo tirando faíscas das pedras no leito do rio com suas ferraduras afiadas.
Sempre Tropeiro lembrava-se dos casos assombrosos que vivera, e que até a data de suas locuções ele afirmava veementemente que eram verdades.
Sua voz grave e determinante assustava as crianças que não estavam acostumadas com aquele timbre. Tropeiro tinha o hábito de dizer: ai, toda a vez que alguém lhe contava alguma coisa. Se tivesse numa cozinha, o ai dele zunia dentro das panelas que ficavam penduravas na estante dos alumínios ou ferros.
Tropeiro, negro forte, trabalhador, conhecido em demasia, pai de muitos filhos, homem cheio de vida, de causos e contos, de voz possante e coração manso.
Nos ares daqueles montes, hoje resta somente nas lembranças das mentes daqueles que o conheceram e até essas, um dia irão passar.
É isso aí!
Acácio Nunes