Cores de Almodóvar
parei em frente ao belas artes e titubeei por um segundo. tanto tempo que não vou ao cinema. tinha um cartaz do filme novo do Almodóvar - mães paralelas. já tinha ouvido falar, uma história sobre ancestralidade. e mães. Almodóvar adora explorar esse universo materno. por isso gosto de assisti-lo. mas gosto sobretudo pelas cores nas decorações, no figurino das personagens (a protagonista de “Julieta”, em uma das cenas iniciais, no trem, é um desbunde. figurino hipnotizante). quando vi, estava de frente para o guichê. “me vê uma meia professor, sessão das 18h40”. acho que fui ao cinema sozinha uma única vez (bem, agora, duas). eu estava na faculdade ainda. me deu desses rompantes de sair sozinha por aí. a penélope cruz estava linda no filme. personagem envolvente. eu estava tão pra baixo e saí da sala de cinema envolvida pela potência dela. passei por aquele espelho gigante e me senti tão dona de mim. ah, pra que falsa modéstia! eu, que entrei naquele cinema seduzida pelo cartaz de Almodóvar, com medo das memórias que o retorno àquele espaço me traria, sentindo-me tão nada, a verdade é que saí de lá e, ao me olhar no espelho, me vi engrandecida, uma personagem de Almodóvar. sim. sorri pra mim mesma e saí. dali a pouco minha pose de penélope se esvaneceria. mas aproveitei bem cada segundo da sensação de me crer uma personagem potente. saí do cinema e caminhei passo leve pela avenida paulista aproveitando a fresca da noite.