A CONDENAÇÃO DOS POETAS

Poetas são seres nefastos e vis.

Das suas mãos escorrem palavras capazes de revirar almas

do avesso, destroçando-as sem dó.

Dos seus olhos saem cheiros que devastam corações,

que incendeiam sonhos, que desnudam sentidos.

Da sua inspiração evocam vidas que não envelhecem,

não titubeiam, não dormem, não sucumbem ao voar do tempo.

Poetas carregam segredos usurpados dos séculos,

conhecem como ninguém as poções que fazem o mar

caducar, o silêncio enlouquecer, a razão desembestar.

Neles não há arestas, não há ciladas, não há perdões.

Poetas não se curvam à Deus, nem ao pó do medo.

Essas criaturas bizarras vagueiam pelos torpores da

fé, pelas mãos trêmulas do vazio, pelos suores atiçados

do bem-querer.

Que se enclausurem todos poetas nos calabouços da

paixão e assim deixarão de untar os homens com

seu condão destemperado da voz das certezas,

sacudindo nossos poros num tsunami sem fim.

E eu, que tento enveredar pelos chãos poéticos da vida,

voluntariamente me sentencio a cumprir essa pena

sem chiar, sem esbravejar, sem desandar meu coração.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/02/2022
Reeditado em 04/02/2022
Código do texto: T7444334
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.