DESROTINANDO

A rotina é mais ou menos semelhante a ter o mesmo sonho todas as noites, com os mesmos detalhes, diálogos, personagens e roteiro. E, noite após noite, ao deitar, saber de antemão que o sonho vai se repetir, sem uma única mudança, sem algo diferente que desfaça a irritante impressão de se ver igual a uma árvore plantada para sempre no mesmo lugar, deixa qualquer ser humano alucinado, arrasa as emoções do mais equilibrado dos homens.

O cérebro de quem está habituado à mesmice fica toldado numa obtusidade quase insana, não floresce, nunca cresce, para no tempo e na vida e permanece inerte, meio obscurecido, pálida caricatura capaz de gritar de horror ante qualquer simples peça tirada repentinamente de sua posição corriqueira na engrenagem cotidiana. Na verdade, escapar da rotina não é tão difícil, basta ousar, fazer de alguma forma diferente tudo ou um pouco do que se está acostumado nas atividades de sempre. Escovar os dentes com a mão esquerda para quem for destro, por exemplo, ou andar descalço sobre a grama ou a areia da praia, mudar a televisão de um ponto para outro, fazer as refeições do outro lado da mesa, dormir do outro lado da cama etc

A rotina é traiçoeira mas previsível, daí tornar-se fácil burlar seu controle, basta a força de vontade de quem dela deseja se livrar. Aliás, tão-logo vencida a mesmice dos hábitos diáros, haverá uma transformação cognitiva e tudo que se mostrar novo e inusitado abrirá nos meandros da mente pontos de luz e horizontes antes desconhecidos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/02/2022
Reeditado em 03/02/2022
Código do texto: T7444130
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