A RELAÇÃO PROFESSOR-COORDENADOR: TRANSPARÊNCIA E COESÃO ("O amigo é-me querido, o inimigo é-me necessário. O amigo mostra-me o que posso fazer, o inimigo, o que tenho de fazer". — Friedrich Schiller)

O aroma de café misturava-se com o cheiro dos picéis para quadro branco e frustração na sala dos professores. Sentado em minha cadeira habitual, observava o vaivém de colegas com expressões cansadas. Meus olhos pousaram sobre a figura imponente do novo coordenador pedagógico, provocando um suspiro resignado.

Ao longo dos anos, acumulei vasta experiência como professor, trabalhando sob a liderança de diversos coordenadores. Cada um chegava com seu estilo, suas promessas e, inevitavelmente, suas decepções. Lembrei-me dos meus primeiros dias, cheio de ideais e esperança, ansiando por um mentor que me guiasse pelos labirintos da educação.

A realidade, porém, revelou-se diferente. Os coordenadores, outrora educadores como nós, pareciam ter esquecido suas raízes, transformando-se em gestores de planilhas e metas. O ideal de um coordenador que protege e apoia seus professores tornava-se cada vez mais distante. Em vez disso, testemunhávamos um balé grotesco: coordenadores equilibrando-se entre as demandas da direção e as necessidades dos alunos, frequentemente deixando os professores de lado.

Um episódio marcante ilustrou bem essa dinâmica complexa. Certa manhã, um novo coordenador chegou, cheio de energia e ideias revolucionárias. Inicialmente, parecia um verdadeiro aliado dos professores. Com o tempo, no entanto, percebi sua postura ambígua: fingia apoiar os professores, mas na prática, defendia os alunos, ignorando as complexidades que enfrentávamos em sala de aula.

Essa abordagem dualista, muitas vezes incentivada pelo sistema educacional, visa encobrir a desordem existente. O sistema parece querer ambos os tipos de coordenadores, conforme sua conveniência, mascarando a verdadeira situação caótica que permeia nossas escolas.

Enquanto observava o novo coordenador circular pela sala, com seu sorriso ensaiado e promessas vazias, não pude deixar de imaginar: e se pudéssemos todos parar e lembrar por que escolhemos esse caminho? Por que decidimos ser educadores?

A campainha tocou, anunciando o fim do intervalo. Levantei-me, ajustei minha postura e me preparei para mais uma aula. Antes de sair, lancei um último olhar para o coordenador. Nossos olhos se encontraram brevemente, e vi neles um lampejo de reconhecimento, talvez até de arrependimento.

Saí da sala dos professores refletindo: talvez, um dia, possamos reconstruir essa ponte. É necessário um realinhamento estratégico que priorize a transparência e a efetividade, ao invés de se contentar com artifícios que apenas disfarçam os problemas reais. Somente através de uma mudança verdadeira poderemos avançar em direção a uma estrutura educacional mais coesa e funcional.

A união e o respeito mútuo entre coordenadores e professores são fundamentais para criar um ambiente propício ao aprendizado e ao desenvolvimento de todos. Afinal, a educação é uma jornada coletiva, onde cada um de nós tem um papel essencial a desempenhar. Quem sabe, um dia, o baile dos coordenadores se transforme em uma sinfonia harmoniosa, onde cada um de nós tenha seu papel valorizado e respeitado.

1. O texto apresenta uma visão crítica do papel do coordenador pedagógico na escola contemporânea, destacando a dicotomia entre as expectativas e a realidade vivenciada pelos professores. Com base em sua experiência como professor e em seus conhecimentos de sociologia da educação, analise os desafios enfrentados pelos coordenadores e as consequências dessa dicotomia para a comunidade escolar.

2. O autor propõe a união e o respeito mútuo entre coordenadores e professores como um caminho para a construção de um ambiente educacional mais positivo e eficaz. Considerando sua formação em sociologia, apresente propostas para a construção de uma relação mais colaborativa e construtiva entre esses profissionais.