A COISA MAIS VALIOSA DO MUNDO
O primeiro trabalho que fiz como escritor biógrafo, aos 24 anos, foi para o Pedro Pucci, então dono da Indústria de Brinquedos Bandeirante.
Era 1981 e os nossos encontros se davam na sede da empresa.
Eu anotava o que ele dizia e depois escrevia numa máquina de escrever, tempos em que nem se sonhava ter esse negócio de computador.
O sr. Pedro era uma pessoa bem agradável de conversa e o tema do trabalho focava as histórias de amor com a esposa, falecida, Lúcia Helena.
Ao lado da sua mesa tinha um cofre enorme.
Tivemos uns 8 encontros.
No último, ele disse com a voz embargada: "Caro Oscar, sou homem muito rico, lutei muito pra ter tudo o que conquistei. Mas todo meu patrimônio, fábrica, imóveis, aplicações etc.. vale bem menos do que guardo nesse cofre".
Então ele pega uma chave no bolso da calça e coloca na fechadura.
Em seguida, começa a girar aquela rodinha na porta do cofre em sentido horário e anti-horário repetidas vezes.
O que teria lá dentro? Qual segredo aquele grande empresário guardava num cofre que poderia valer tanto? Diamantes? Obra de arte? Alguma relíquia dos tempos bíblicos?
A cabeça daquele escritor em início de carreira estava a mil, diante da elucidação do mistério.
Com a porta do cofre aberta, meu cliente tira uma pasta de plástico.
Nela estavam os bilhetes que a amada esposa lhe deu ao longo do tempo em que viveram juntos.
Coração desenhado em guardanapo de papel com "eu te amo, Pedro" escrito a caneta.
Frases apaixonadas deixadas em papel de embrulho, folha de agenda, de todo jeito.
Lembranças únicas de história que a fatalidade colocou um ponto final, mas que no coração daquele homem eternamente apaixonado, viveria pra sempre.
Recordações simples, lindas, emocionantes, que ecoavam a paixão intraduzível que alinhavaram juntos.
Ele me entregou a pasta e pediu que eu visse com calma em casa.
Com a voz embargada me levou até a porta de sua sala e nos despedimos.
Andava de ônibus na época e dá pra imaginar o medo de que algo acontecesse com aquele preciosidade. E se chovesse? Se alguém a roubasse? Se eu esquecesse no banco do ônibus e nunca mais a tivesse de volta? E se...?
Felizmente pude devolvê-la ao sr. Pedro sã e salva, que a recolocou no cofre com a reverência diante de algo único e sagrado.
Pra ele não havia nada mais valioso no mundo.