Um dia cinzento
O céu estava cinzento, a chuva não dava trégua, os raios pareciam raivosos e a trovoada abalava as nuvens, que não eram de algodão e não embalavam sonhos, ao menos os de Mimi. Sabe aqueles dias de fúria? Exatamente isso. Tudo dando errado, inclusive a entrevista de emprego. Muita qualificação e competência técnica para quem mora num barraco de zinco, e a fluência no inglês era um diferencial. Recepcionista de um hotel desprovido de toalhas, e as estrelas moravam no céu. Para completar o desastre, o gás de cozinha acabou. Revoltada, ligou a caixinha potente e começou a ouvir Tierry e sua sofrência. Cantava desafinada mais alto do que os decibéis do som, a música, Amava porra nenhuma. No embalo, para esquecer os infindáveis problemas, tomou uma garrafa de vinho tinto, vagabundo mesmo Por isso, não ouviu o namorado Zitinho chamando. Também, com tantas desventuras, quem é que queria estar sóbria? Nem que fosse bêbada de emoção. Na manhã seguinte, acordou com uma baita dor de cabeça, o barraco bagunçado e um bilhete debaixo da porta. A curiosidade não matou o gato, mas fez Mimi chorar, pois Zitinho terminou com ela por causa da música de Tierry. Bem o novo dia começou e a promessa de um tempo bom foi para o espaço.