A ULTIMA CARTA
A ULTIMA CARTA
Contam que a ultima carta foi todinha ensaiada, nenhum detalhe seria deixado fora, nenhuma vírgula fora do lugar, afinal a última carta, sem retaliações, sem réplicas. Uma sentença!
Voltou as aulas de redação de colégio, juntou aos conhecimentos dissertativos, e formulou toda mensagem de início meio e fim, conclusões e citações que precisavam conter na ultima carta.
Rascunhou cada pensamento, deletou e acrescentou tudo o que julgava necessário. Refez cada parágrafo na memória, pontuou, reviveu e reescreveu por diversas vezes, até se dar por satisfeito.
Estava diante de toda sua verdade, cristalina e despudorada, estava ali de um modo que cada palavra lhe despia, era assim que deveriam ser todas as cartas que por vezes floreamos, mas a última carta não lhe permitia titubear.
Uma vez entregue a sentença, não caberia espaço para recursos, por isso pensou tão cautelosamente, e ajeitou por diversas vezes qualquer palavra fora do lugar.
E quando por fim todas tuas ideias se alinharam de forma contundente, percebeu que tamanha verdade só pertenciam a si, ninguem mais haveria de merecer a nudez de teus pensamentos mais íntimos, senão quem de fato pudesse decifrá-los.
E assim seguiu com teu silêncio mais honesto que qualquer palavra que pudesse conter na ultima carta, e mais palpavel que qualquer manuscrito. Sempre haverá quem leia, mesmo o que não escrevemos.
Thaís Mendes