Sete dias sem Olavo de Carvalho

Dia frio em pleno verão este 31.01.22. Dia frio e chuvoso na cidade da garoa. Eu sinto frio, mas não sinto gosto nem cheiro – resquícios da covid. Eu sinto pesar e tristeza – sete dias sem Olavo de Carvalho.

 

Trancado na minha convalescença dupla, eu leio.

 

Li um pouco do Lovecraft. Li um pouco do Henry Miller. Li um pouco do Burroughs. Li até o Edmund Wilson e o Thomas Morus: sonhei, delirei, fui até a estação Finlândia nas asas duma utopia fria e insípida. Como voltar de lá? Como tomar uma boa dose de realidade?

 

Pesquei na pilha de livros amontoados na minha cama o exemplar “Os EUA e a Nova Ordem Mundial – um debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho” e comecei a (re)ler.

 

Li este livro logo quando lançado, em 2012. Foi um dos únicos do Olavo que não reli – até hoje. Mea culpa.

 

No começo do livro temos dois contendores humanos. Sim, no começo ambos debatedores pertencem a mesma espécie. A metamorfose, no entanto, vai acontecendo ao longo das páginas.

 

No livro do Kafka de mesmo nome a gente fica meio sem saber o motivo da metamorfose do homem em barata. No livro-debate entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho, porém, a gente sabe: o culpado por transformar Dugin em barata é Olavo de Carvalho.

 

Meu Deus! O que parecia um debate franco entre duas inteligências privilegiadas, de repente, transforma-se numa aula de filosofia, de história, de ciência política. O que parecia uma divergência de pontos de vista, de repente, percebemos, trata-se na verdade de um desnível moral-espiritual monstruoso.

 

A metamorfose começa pra valer a partir da página 113 do livro, quando Dugin tenta responder alguma coisa aos argumentos anteriores do Olavo. Digo “tenta”, pois o que Dugin responde é risível. Incapaz de contra-argumentar, Dugin fecha-se num dogmatismo bicudo, por exemplo, apelando a Marx como suprema fonte de sabedoria: “Essa tese (a respeito da existência de dois tipos de discursos na ciência política: o do agente político e o do observador científico) é derrubada por Marx em sua análise da ideologia como a base implícita da ciência como tal.” Para Dugin, como se vê, Marx falou a água parou e ele (Dugin) não precisa explicar mais nada.

 

Mas a metamorfose aguda vem na sequência, na contra-resposta do Olavo a esta tentativa canhestra do Dugin argumentar algo.

 

Primeiro Olavo elenca cinco pontos cruciais que expôs e não obteve resposta do Dugin. O russo começa a criar antenas e asas. Depois Olavo expõe as trapaças erísticas do adversário. Dugin desenvolve o exoesqueleto. Olavo, então, professor que é, começa uma verdadeira aula hiper-plus-ultradisciplinar. Alexandre Dugin cria três pares de patas e sai rapidinho rumo a uma fresta na parede antes que Olavo o esmague.

 

Relendo o livro “Os EUA e a Nova Ordem...” eu compreendi como minha memória pode ser falha: apesar de ter lido o livro anos atrás, eu não me lembrava da sua envergadura intelectual. E, ó raios, a envergadura intelectual poderia ser menor em se tratando dum livro do Olavo?

 

Claro que não poderia, pois Olavo de Carvalho é gigantesco. Sempre.

 

Que alegria, Olavão, é ler seus escritos! É impressionante como em tão poucas linhas eu aprendo tanto e, mais impressionante, como fico com vontade de aprender ainda mais.

 

Olavo de Carvalho é um portal aberto para a realidade. Ainda bem que disso eu não me esqueci e jamais me esquecerei.

 

Obrigado, Olavão. De novo.

 

João G G Domingues
Enviado por João G G Domingues em 31/01/2022
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