O SER E O ESTAR

A inspiração, tenho por mim, deu adeus e foi embora de minha vida, provavelmente para sempre. Inquieto e desnorteado, busco-a nas rosas, nós pássaros, numa garota bonita, num belo luar, nas estrelas, porém é mero esforço em vão, não há o que fazer, ela se foi e se escondeu nalgum estranho e inalcançável lugar qualquer.

Assim, alarmado, malgrado os inúmeros livros lidos, alguns desenhados apesar de meus parcos conhecimentos, vejo não somente as palavras e seus significados fugindo, mas o dicionário inteiro caindo de minhas mãos calejadas de tantos rabiscos, sumindo da estante como num passe de mágica, esvaziando a imaginação e a criatividade, levando-me ao deserto das letras.

Pobre de meus intentos, dos sonhos beletristas acalentados desde tenra idade, quando, segurando um pedaço de papel solicitado ao dono da padaria e um toco de lápis de ponta mal feita, eu rascunhava as primeiras e inocentes croniquetas, os inimagináveis contos e as poesias pueris que as meninas da minha idade inspiravam. Ah, pobre do candidato a escritor que já não sabe por onde anda a utopia, o devaneio, o ingente desejo de encher as folhas em branco com o negrume das palavras e das frases! Em faltando a inspiração, que lhe resta além das lamúrias, das lamentações e das lágrimas? Talvez o vazio existencial, pois sem escrever o amante dos livros e das letras perde o interesse pela linha do horizonte que cada amanhecer ainda oferece a todos dia após dia. Porque muito do ser e do estar perde a razão, o querer e o prosseguir desmoronam no abismo do niilismo.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 31/01/2022
Código do texto: T7441952
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