O povo e o vírus.
As aglomerações estão por toda parte. O vírus também.
Ao povo falta consciência atitudinal. Ao vírus sobra oportunidade para se reinventar e multiplicar suas variantes.
O momento, entre a crítica, o perigo de um colapso do sistema de saúde e um comportamento coerente frente à situação, implica uma reflexão bem mais ampla.
O ser humano, desde a sua mais remota história acessível, constitui-se um ser de relações sociais. Primeiro, com seus laços de sangue, tribo, grupo, família. Segundo, com a ascensão do capitalismo, humanos tornaram-se seres de relações de visibilidade e de consumo.
Não basta ser. Precisa-se mostrar, para os outros, que se é. Não basta ter dinheiro, necessário se faz, ao ego, viajar para que outros muitos vejam que se pode (e que, no fundo, eles, os outros, não podem). Comer uma pizza em casa, com a família (?), com certa segurança, não se compara a ir no bar da esquina, com som alto, aglomeração e vírus circulando e proliferando. O povo, especialmente o brasileiro, precisa-se mostrar.
Falta-nos, como povo (somos um todo ou não somos?) atitude e resiliência frente aos perigos e responsabilidade conosco mesmos e com a coletividade.
Para quem viaja e aglomera nestes tempos de situação viral complexa, delicada, falta atitude positiva, afirmativa e inteligente em relação a sua própria condição, mas especialmente em relação à coletividade.
A responsabilidade com a coletividade é assunto ofuscado nas relações sociais. O outro é apenas um apêndice teórico. De fato, ele só tem significado quando o precisamos ou nos traz algum benefício.
Constata-se, assim, que o povo, grande parte, circula, aglomera, viaja, vive em festa. Como se diz: ‘não está nem aí’.
O vírus se aproveita da ‘inteligência’ desse humano que fabrica a própria miséria... e a sua morte, antecipada.
Viva o vírus!