As belezas do Sertão (parte 1)
O sertão é uma paixão que tenho guardada comigo e, vez por outra, me pego lembrando de minhas passagens mais marcantes por suas entranhas.
Não pese o fato de ter nascido em São Luís do Curu, município cearense distante menos de 100 Km de Fortaleza, pois não cheguei a viver nessa cidade. Em 1962 eu estava com dois anos, quando nos mudamos para a “capitá” do Ceará e, depois dela, poucas foram as vezes que visitei minha cidade natal, mesmo tendo fortes raízes familiares morando por lá.
A história que vou contar aconteceu no ano de 1974, ano onde muitas cidades do Ceará sofreram perdas enormes por conta das grandes enchentes.
A prima de minha mãe, que morava na Serrota, no município de Pentecoste/CE, teve um sério problema de saúde por conta de uma injeção mal aplicada. Não conheço detalhes, só sei que ela teve uma infecção muito séria no braço e precisou fazer um tratamento em Fortaleza. Meus pais, prontamente, acolheram a prima em nossa casa.
Ela ficou boa, mas, na hora de voltar para casa, o bicho pegou!
As fortes chuvas na região não davam trégua e, por conta disso, a ponte da Serrota caiu. Papai achou melhor ela ficar mais uns dias e, quando o tempo estiou, chegou a hora da prima partir. Não sei bem o porquê, mas, eu e meu irmão mais velho fomos designados para escoltar nossa parenta até sua casa. Foi a melhor coisa que aconteceu, pois vivi os momentos de interior mais marcantes de minha vida.
Quando o ônibus chegou na beira do açude, ele realizou o trajeto mais perto longe e mais perigoso que já enfrentei na vida. Ele passou por cima dos escombros do açude, que não me pergunte como foi, só sei que foi!
Chegamos, ufa!
Quando me deparei com a casa fiquei maravilhado. Tinha uma pedra maior que a casa, localizada bem na sua frente. A casa parecia um sonho, muito bem cuidada, o terreiro limpo “arrudeado” de árvores e outras plantas bem verdes, dentre elas papoulas vermelhas bem vibrantes, fazendo uma espécie de cerca viva.
No fundo da casa tinha um curral onde as galinhas, patos, cabras, vacas e bezerros conviviam harmonicamente. Na ponta das estacas da cerca, alguns pássaros, dentre eles o Galo Campina e a Graúna faziam o arremate daquele belo “background sertanejo.
Entrando na casa me deparei com outra bela paisagem. Tudo muito bem arrumado e bem zelado. Dei logo fé de vários potes, cada um com um pano muito limpo, bem amarrado e com sua vasilha de tirar a água deitado na tampa. Numa espécie balcão americano feito de barro e cimento, tinha uma quartinha cercada de copos de alumínio bem polidos.
A mesa retangular de madeira, tinha quatro cadeiras com assento e encosto feitos de couro de bode. A parede ornada com quadros de santos e retratos da família. Tinha também uma cela pendurada no armador e logo no chão abaixo uma cangalha com uma cara bem surrada.
As portas da entrada e do quintal eram de madeira e daquelas “de duas bandas”. As janelas, também de madeira, tinham umas frestas bem salientes.
Pensei que nesse único texto eu conseguiria descrever essa minha passagem pelo sertão mais sertão que conheci. Vou deixar para um segundo post, no entanto, eu não poderia deixar de destacar, já nesse texto de abertura, a alegria e o carinho com que fomos recebidos. Tia Raimundinha nos abraçou e nos beijou de um jeito tão carinhoso, que não deixava nada a desejar a dona Benta do sítio do Picapau Amarelo.