Do encontro de um poeta com a Dor.
Ele vivia meio sem motivo e achou que seu motivo poderia ser a dor.
Então a procurou em tudo que havia na vida: no dia, na noite, no trabalho,
na paixão, debaixo de todo sentimento.
Então a encontrou e depois de beber do seu vinho até se embriagar,
não a quis mais; a mandou embora, mas ela não foi. Gritou para ela que não
a queria mais, não precisava mais dela. mas ela não foi.
Disse para ela que estava enganado quando a procurou e que foi apenas pela
sua inquietude e desassossego que o fez. Mas ela não foi. Ela sabia que estava
mentindo.
Ela virou sua roupa, sua comida, sua bebida e tomou conta do seu corpo. Perdeu
o casamento, o trabalho, a madrugada; mas não desistiu de viver. Tinha um filho, pais,
irmãs, amigos . Tarde demais para desistir; estava amarrado a vida, definitivamente.
O amor universal havia brotado em seu coração. Tarde demais.
"A vida é maior que qualquer dor"; olhou para céu e respirou fundo. Era isso
que tinha que aprender, pois, tinha medo que a dor o aniquilasse quando chegasse
sua hora de sofrer como os outros sofrem. Todos tem sua hora. A vida trata a todos
igualmente.
Sua poesia ficou melhor.