DENTRO DE MIM.
As trevas cobrem toda a extensão do céu, não há estrelas, apenas nuvens sendo clareadas pelo lume causado pelos relâmpagos. Trovões ao longe, que se aproximam, se intensificam. Formou-se a tempestade que logo mais vai desabar. Da janela do meu quarto observo, apaguei todas as luzes, o calor é intenso neste final de Janeiro. Estou em mais uma noite de solidão, os pensamentos fugitivos, a alma angustiada, o coração apertado. São tantas as questões a serem resolvidas, problemas que parecem insolúveis, das quais não dependem de mim unicamente, todas essas ideias flagram a alma levando-me uma vez mais a pena e ao papel, então me desfaço em palavras e ideias.
Todo esse silêncio me trouxe inquietação, desatino, ligo a luz novamente, peguei alguns livros na estante e os joguei na cama. Um se destacou logo de cara, leitura recente, que espressa exatamente a nossa sociedade atual e seus possíveis destinos, em um breve resumo: O livro foi publicado em 1945, imediatamente interpretada como fábula satírica sobre os descaminhos da Revolução Russa, chegando a ser usada como propaganda anticomunista. O livro traz uma duríssima crítica ao totalitarismo soviético; mas seu sentido transcende o contexto stalinista. O livro conta a história que se passa na fazenda do senhor Jones, os animais que viviam ali, percebem o quanto são maltratados por Jones, e que se matam de trabalhar para os humanos, e que lhes dão toda as suas energias em troca de uma mísera ração, para ao final, serem abatidos. Certo dia, um porco já velho, por nome Major, faz um tremendo discurso incentivando a todos os animais a uma revolução. Major morre, e dias depois, liderados por dois porcos, Bola-de-neve e Napoleão, os bichos então se rebelam e expulsam o fazendeiro de sua propriedade e passam a viver em liberdade, em uma espécie de Estado onde todos são iguais. Porém, essa utopia tão maravilhosa no início, não dura muito tempo, e logo começam a surgir as disputas, os porcos, por se considerarem mais inteligentes, são os novos líderes, criam leis, prometem um novo mundo, mas aos poucos, os demais bichos, não percebem as manobras e manipulações dos porcos, tanto das leis criadas quanto dos assuntos tratados e das regalias que os porcos têm. Tempos depois, Bola-de-neve, que era então o líder, foi expulso da fazenda por Napoleão, que agora, ladeado de seus ferozes protetores cães que criará escondido, se intitula o novo líder. Napoleão distorce sutilmente as leis, faz com que os animais trabalhem mais do que antes da revolução, mas eles estão tão cegos que não percebem nada, e a nova vida, que em tese era para ser de igualdade para todos e melhor, passa a ser pior do que antes. Tentativas de tomar a fazenda acontecem, mas os porcos, hábeis manipuladores das massas, convence os animais em todas as vezes, fazendo deles, o que bem entende para benefício próprio. O livro é de um brilhantismo descomunal, e serve muito bem para ilustrar a sociedade de hoje, das políticas corrompidas com discursos de igualdade, mas que na verdade, assim como na revolução dos bichos, visão apenas a manipulação para o benefício de seus pares.
O livro fala por si, nada mais tenho a dizer nessa crônica. Chuvas e trovões povoam a noite lá fora, assim como a noite aqui, dentro de mim.