FILA DE BANCO !


    Aquela conta tinha de ser paga naquele dia senão me traria sérios transtornos. E não eram só a multa e os juros, sempre teria alguém que me ligaria no dia seguinte perguntando se o débito tinha sido quitado. 
    Sexta feira, duas horas da tarde, é claro que não poderia esperar que o banco estivesse vazio e mais um detalhe, último dia útil do mês. Como não adiantava chorar, resmungar, reclamar, espernear, xingar, etc.,resignado mas contrariado, fui para a agência bancária .
    Só não me assustei com o tamanho da fila porque já estava preparado, só que estou me referindo a fila para entrar na agência. Parece-me , não tinha certeza, que acontecera alguma coisa com a porta automática e portanto, tivemos que esperar alguns minutos (mais ou menos meia-hora) do lado de fora. 
    Finalmente, consegui entrar . O ar-condicionado funcionava muito bem mas a fila para os caixas impressionava. Era um enorme caracol, onde com um pouco de dificuldade pude descobrir seu final.
Mentalmente contei as pessoas que estavam a minha frente. Eram sessenta e cinco e nenhum conhecido ou conhecida. 
   Às vezes acontece de encontrar algum conhecido, se bem que a última vez que isso aconteceu foi a uns dez anos. Como não tinha muito o que fazer, comecei a observar e prestar atenção ao que as pessoas faziam e conversavam. 
  Interessante como certos detalhes passam completamente despercebidos. Na minha frente tinha uma mulher com uma criança de aproximadamente seis ou sete anos. As duas discutiam:
    - Já falei que não quero que você gaste dinheiro com bobagens na escola.
    - Mas mãe , eu só comprei uma pizza pequena e um refrigerante.
   - Mas gastou muito. Assim não dá, não sobra dinheiro prá nada. Ah, me lembra quando a gente sair prá comprar um batom novo, que o meu tá quase acabando .Quem estava com a razão, quem gastava atoa ? 
    A pessoa que estava atrás de mim atendeu ao celular. Era uma jovem tentando falar com a voz rouca e sexy : - Mas meu amor, já disse que não tenho mais nada com ele . (pausa). Se ele me liga eu não posso fazer nada (pausa). Só atendo por educação (pausa). Não, ele não me convidou para ir ao cinema, foi para tomar um chope (pausa). Se eu cheguei tarde em casa? Mais ou menos, ainda não eram duas da manhã . (pausa). Não aconteceu nada...(pausa). Tá bem se você quer assim, tudo bem, adeus. Deve ter desligado o telefone com raiva e com força. .
    Mais a frente, antes da primeira curva do caracol, uma loura alta, com mini-saia e decote avantajado, olhava com certa ansiedade para o inicio da fila até que seu olhar cruzou com o de um rapaz magro, de óculos, do tipo que não chama muito a atenção nem desperta interesse. Só que ele era dos primeiros na fila e isso era importante.
    De olhares cheios de promessas a um flerte escancarado e daí para ficar ao lado do rapaz foi um pulo. Logo, logo a loura foi chamada por um dos caixas. Quando o rapaz magro procurou por ela, acreditando que não tivera nenhuma dificuldade na conquista, a moça tinha sumido. É nisso que dá confiar em louras de decote avantajado! 
   Me chamou a atenção um senhor de cabelos grisalhos e paletó claro que lia um jornal tranquilamente, parecendo não se importar com o que acontecia a sua volta. O que me impressionou foi a maneira como dobrava cada folha de jornal.
Parecia que estava passando uma camisa de seda caríssima. Tentaria fazer a mesma coisa quando chegasse em casa, pois não consigo folhear jornais com a técnica daquele senhor. 
  E assim continuei observando, estudando, criticando , aprendendo e o tempo foi passando, passando, até que chegou a minha vez. Com certo alívio apresentei a conta, tirei o dinheiro da carteira e separei o que achava seria o valor correto a ser pago.
   Não entendi bem quando o caixa autenticou o documento e me falou o valor. Pedi para repetir, ele repetiu e ao contar o dinheiro percebi que faltavam quase R$ 50,00.
    - Não é possível, o senhor tem certeza ?

   O caixa, indiferente, só balançou a cabeça.
Estava criado o impasse. O débito tinha um valor e no bolso eu tinha outro, bem menor. 
  O supervisor foi chamado e ouviu a explicação do caixa. Ao que parecia a solução seria estornar o valor autenticado e infelizmente, por não ter o dinheiro certo, resolver o assunto com o credor, o que certamente seria um problema muito maior. 
  Por um instante os olhos do supervisor brilharam e pegando a conta ele sorriu e com certa ironia , me olhou e disse com um ar meio debochado:
   - Quer dizer que o senhor enfrentou essa fila toda para quitar um documento que ainda vai vencer no mês que vem ?
    - Como ? Não acredito ! 
   - Pois acho bom acreditar, veja aqui bem no cantinho o que está escrito com letras miúdas . Era verdade, enfrentei duas horas de fila e me estressei desnecessariamente.

   Amanhã, a primeira coisa que vou fazer será trocar meu óculos. Preciso enxergar melhor.



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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 20/11/2007
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T744025
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