Da série:
Diário de minhas andanças
JANELAS
Eu cruzava o trecho de um bairro onde, decididamente, mora o bucolismo.
A casa de paredes rotas, espiava melancólica a rua de pouca gente.
Uma roseira , presa à parede, coloria o desbotado das tábuas e um vento macio conduzia pássaros sob um céu ligeiramente nublado.
Atinei com meus botões:
Atrás daquelas janelas residem segredos e mistérios.
Segredos e mistérios que aguçam a curiosidade dos homens.
Faminta - a imaginação - alimenta-se
na mesa farta dos devaneios.
Então...
Na penumbra da sala, o silêncio empoeirado dos móveis, a samambaia escorrendo num verde vigoroso, alguns sorrisos presos em porta retratos, um gato vadio estirado no tapete e um relógio na parede dilacerando as horas que nunca passam.
Os bibelôs trocando olhares e um telefone antigo tocando sem que alguém o atenda.
Uma mosca desajeitada zumbindo entre o tecido da cortina,tentando uma fenda que a liberte para a imensidão do mundo lá fora.
É o que presume a curiosa e insensata mania da criação de cenários que habita nos seres humanos.
A roseira a tudo observa.
Hospedeira das rosas, só ela conhece (mas não revela) os segredos e mistérios que resguardam-se por trás das janelas.