Corredor, corredor.
Corredor, corredor. Sempre quando passa, acelera, corre. Corre para onde, acelera por que, corredor?
De onde você vem, para onde você vai? Corre tanto, com tanta pressa, para onde, corredor? São apenas 4h45, os carros velados mortos estacionados nas garagens ou na horizontal das ruas. É sábado, quinze para as cinco, a noite ainda escura, e você, corredor, com tanta pressa, embaixo dessa neblina espessa que cobre as faces das ruas. Para onde com tanta urgência, corredor? Você está sozinho nas ruas, anônimo, a Avenida vazia, a cidade em silêncio.
Para que tanta pressa, corredor? Acalme-se. Hoje não é dia útil. Acalme-se. Parece que o mundo não vai acabar hoje, e sua ausência, por sua vez, não influencia a Balança Comercial, não faz subir ou baixar as ações na Nasdaq. Você é um anônimo, corredor, cujo único espectador é essa moça fumegante que te olha com olhos de lince, da altura de seu primeiro andar verde. Essa moça, fumegante, que, quando você passa, apressadíssimo, ela acende mais um cigarro e torna-se sua única audiência.
Corredor, corredor. Corre para onde, acelera por quê?
Acalme-se, corredor. Hoje não é dia útil, parece que o mundo não vai findar hoje, os carros mortos estacionados nas garagens ou na horizontal das ruas não ameaçam a presença sua. Acalme-se, corredor. Note a presença da moça fumegante de olhos de lince te degustando, do alto do primeiro andar verde. Aprenda com ela a degustar o silêncio, a neblina espessa, o anonimato das ruas.
Perceba que essa moça de olhos de lince e do alto de seu primeiro andar verde, quando você passa, apressadíssimo, ela acende mais um cigarro, traga mais uma esfumaçante tragada e te olha, perguntando: "Corredor, corredor, por que tanta pressa? Se acalme, corredor. O mundo não vai se acabar hoje". E ela repete a pergunta: "Corredor, corredor, por que tanta pressa? Se acalme, corredor. O mundo não vai se acabar hoje". E o corredor corre, corre, corre.
Enquanto o corredor corre, apressadíssimo, sob as bençãos de espessa neblina, a moça do primeiro andar verde e de olhos de lince calmamente fuma mais um esfumaçante cigarro e lhe balbucia: "Corredor, corredor, você está atrasado". E o corredor corre, corre, corre. Mas para onde e por que nem ele sabe.