Banho de chuva na minha infância

Eu estava nesse instante parado vendo a chuva cair pelas telhas e pela bica, feito um chuveiro desgovernado.

A mente não se conteve e me levou para meu tempo de menino.

Eu morava numa vila, a rua da frente de minha casa era de chão batido. Quando chovia virava um verdadeiro parque de diversão para a pivetada do lugar.

A água que vinha de rua abaixo a gente represava com o máximo de nossa engenharia. Depois era só aproveitar a piscina formada pela água empossada. No entanto, vez por outra, uns meninos fuleragem com "sprito de porco", só pra fazer o mal, derrubavam as parede do nosso açude.

Na verdade, a gente nem ligava, e já levantava correndo para aproveitar as bicas. Tinha umas que eram tão fortes que só faltavam afundar a cabeça da gente.

Como na vila toda casa tinha uma biqueira, a gente saia correndo, metendo a cabeça de uma em uma (eram 17 casas).

Era um "magote" de menino danado. Tinha deles que os beiços ficavam roxos que os cabras cruzavam os braços escondendo as mãos debaixo dos suvacos, tremendo de frio, mas, mesmo assim não abriam nem pro trem.

Não posso deixar de relatar um pouco sobre a "moda chuva". Tinha umas figuras com uns cauções frouxos, pregados nas carcaças, que mais pareciam uns vem vem, com os cambitos finos que davam até pena.

Vez por outra levávamos umas quedas meio doidas, por conta do chão liso. Pra falar a verdade a queda não era o pior, escroto mesmo era a mangação e o "salga" que vinha depois (ô povo "canaia").

Posso citar que outro ponto positivo da chuva era a água aparada pra beber. Logo em seguida era coada com um pano bem "limpim", que era amarrado na boca do pote. A água era gostosa e bem geladinha. (Melhor ainda se ela fosse colocada numa quartinha de barro).

Depois do "bãe" era só "entrar pra dentro" se "inxugá" e curtir o resto da chuva. Era um frio danado, a gente tremia mais do que cara verde. Os pés roxos e enrugados jogados contra a parede, encontravam forças para balançar a rede o mais alto possível, e os respingos que vinham das telhas ajudavam a criar um clima gostoso que, no final de tudo, acabávamos pegando no sono.

jrogeriobr
Enviado por jrogeriobr em 28/01/2022
Reeditado em 29/01/2022
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