Dia de Todas as Consciências
Sou pardo na minha certidão de nascimento, moreninho para a minha esposa e negro para o sistema de cotas que me garante uma grande vantagem: pulo na frente para ser aprovado, se eu resolver fazer vestibular em Brasília ou qualquer outra cidade onde eu seria julgado pela cor da minha pele. Eis o grande dilema; conseguir um diploma por ser negro ou uma formação por mérito?
Sou pardo, mas estou mais para pardal; sou negro, mas estou mais para traidor do movimento afro-brasileiro quando grito aos quatro cantos: não enxerguem a cor da minha pele, percebam as cores da minha alma.
“Não sou alienado”, respondo aos negros que são mais racistas que muitos brancos; conheço a cor do preconceito, já a vi refletida em portas fechadas, em olhares tortos e em oportunidades de emprego; mas das coisas maravilhosas de se morar no Brasil ( e acreditem há muitas), há essa junção do branco e do preto; do amarelo e do índio; essa miscigenação que transformou esse pais em um paradoxo onde branco é preto e muito preto é branco. Fui pobre, hoje sou rico em possibilidade, pois não acredito em deficientes por cor. O homem que me tornei, surgiu quando questionei ao invés de acreditar sem me perguntar; quando cantei ao invés de reclamar; e pensei ao invés de concordar com tudo que leio ou ouço e por isso, pergunto-me na calada da noite que antecede o dia da Consciência Negra: celebraremos nesse dia a importância de grandes homens e mulheres? Ou apenas o fato deles terem sido ou serem negros?
Vou levar pedrada, mas acredito que Machado de Assis, Castro Alves, Cartola e outros tantos autores e artistas negros não devem ser lembrados por serem autores negros e sim por sua obra que brilha em todas as cores; O ministro e juiz do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, não surgiu e virou destaque nacional apenas por ser negro; ele ganhou o destaque na mídia por sua honestidade, que virou virtude rara em um mundo onde todos querem ganhar vantagem em cima dos outros.
Se adoramos celebrar e criar feriados, que surja o Dia de Todas as Consciências, onde todos os brasileiros saiam as ruas para festejar a união dos povos, independentemente da sua cor ou crença. Vamos celebrar a miscigenação das consciências, tão presente nesse país e tão ausente na mente dos brancos e pretos de todos os cantos, que só enxergam o aparente que vêem no espelho.
Sou algo a mais que ser negro; ele tem algo a mais que sua pele branca; ela é mais que seus olhos puxados; eles são muito mais que índios. Enxergue diferença na cor do outro e você estará segregando sua própria consciência; perceba que todos nós somos iguais e você estará livre da escravidão do preconceito que ainda aguarda a lei áurea do discernimento.
Frank “ Neguinho” Oliveira
http://cronicasdofrank.blogspot.com/
Notas do Autor: Na família Oliveira, minha irmã é negra, meu irmão mais novo é branco; minha sobrinha é ruiva, meu irmão mais velho é japonês; meu pai é negro, minha mãe é branca e minha Vó... acreditem ou não...é índia. Querem provas? Olhem as fotos no meu blog.