Enluarada, não!

 

Onde estou há uma janela para o céu, a  grande janela do jardim, delimitada pelo muro alto. Uma janela que nunca se fecha. Apaguei as luzes. Os luzeiros acesos lá em cima piscavam uns, brilhavam outros, e uns morriam. As Três Marias se davam as mãos para cruzarem o céu, desde que chegaram ao anoitecer, até a madrugada. O Cruzeiro do Sul estava lá, como uma bússola celeste. Deitei-me na grama para não ficar tonta, e deixei estrelas caírem nos meus olhos. Pisquei várias vezes cílios cintilantes. A lua redonda me olhava, travestida de Jaci, pensando que eu era a índia Naiá. Percebi o feitiço e, antes que ela me buscasse ou que eu ficasse enluarada, corri para dentro de casa, cheia de estrelas nos cestos de fantasia...

 

(Jaci, a lua, e Naiá, personagens da lenda da Vitória Régia).

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 27/01/2022
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