Crônicas da Amendoeira ( Pret-À-Porter e a Seleção )
Pret-À-Porter não quis ficar para o jogo. O churrasco de picanha invertida preparada pelas mãos hábeis de meu sobrinho Daniel fora-lhe o bastante. Tentei ainda uma vez fazê-lo ficar. Em vão.
- Professor, não gosto das orelhas do Dunga!
Talvez por conta das cervejas que me nublavam levemente os neurônios, não dei muita importância ao comentário do sábio amigo. Arrependi-me. Jogo começado, e o semblante do técnico era mesmo o de um fusca com as portas abertas. Marcela lembrou-me do Dumbo, hipótese rechaçada por minha irmã mais velha:
- Não! Elefante não vale!
O jogo corria, mas a imagem do paquiderme cenozóico não me saía da cabeça. Respirei fundo. Afinal, já não sabia se o que me irritava era a parelha Mineiro-Gilberto Silva, ou os zurros alucinantes do Galvão Bueno. Mas, em campo, os seus pares. Metade do time cumprindo o que a biologia vaticina: vigor e esterilidade. Éramos isso jogando contra um Peru sem viagra. E não adianta culpar nossos poucos craques. É mesmo impossível aparecer com tantos cabeças-de-bagre à volta.
O intervalo do jogo matou-me uma saudade:João Saldanha. Ironia ou não, veio a calhar. Estava ali o velho comunista que não se vergou a uma outra besta, só que de farda. Sobre esse jogo, talvez dissesse:
- Meus amigos, o que se vê por aqui é um escrete de pernas-de-pau!
Jogamos mal. Ou melhor, não jogaremos melhor com atletas que só conseguem agradar a alguém que, dentro das quatro linhas, nunca foi menos medíocre. Mas e a raça, dirão alguns? Raça não é gritaria, muito menos tentativa de agressão como na Copa de 94. Enquanto o técnico escalar a si mesmo seremos o que se viu. Mas não se preocupem, eventuais leitores. No frigir dos ovos, prevalecerá um simples toque, aquele, de mestre.