MERAS MIRAGENS DO PASSADO
Curiosa a vida.
Convivemos com pessoas por anos a fio, que acabam se tornando peças fundamentais
nas engrenagens do nosso cotidiano, dando a clara certeza do quanto são essenciais, pulsantes e queridas.
Um dia essas pessoas morrem.
Fazemos valer o luto com todas suas asas, cores e rebarbas, até o fim.
O tempo vai passando e aquelas criaturas, outrora vitais, vão ocupar novas pilastras, de referência, de saudade, de lembranças que, vez por outra, evocamos e isso traz sensações gostosas e confortantes.
Passa outro quinhão de tempo e até colamos seus retratos na parede, ou no coração, para admirar quando der vontade.
Então aquelas pessoas, reverenciadas com tanta veemência e carinho, parecem que nunca existiram, se tornam meras miragens de um passado que passou e ponto final.
Estando mortas, é como se fossem fantasias que a nossa imaginação esculpiu, fica difícil, de fato,
crer que um, dia falavam, respiravam, sentiam, conversavam com a gente e, pasme, viviam.
A morte faz que sejam apagados certos vestígios da sua existência.
Isso é cruel, desumano, maquiavélico até. Mas é fato.
O consolo é saber que tudo isso, num belo dia, também acontecerá com a gente e os nossos queridos, quem sabe, compartilhem da mesma constatação, nos guardando como meras miragens do passado.
E nada mais.
Curiosa mesmo a vida.
P.S. A segunda, da direita pra esquerda, é minha irmã e está viva
e o segundo da esquerda pra direita sou eu e estou vivo, até segunda ordem.