MERAS MIRAGENS DO PASSADO

Curiosa a vida.

Convivemos com pessoas por anos a fio, que acabam se tornando peças fundamentais

nas engrenagens do nosso cotidiano, dando a clara certeza do quanto são essenciais, pulsantes e queridas.

Um dia essas pessoas morrem.

Fazemos valer o luto com todas suas asas, cores e rebarbas, até o fim.

O tempo vai passando e aquelas criaturas, outrora vitais, vão ocupar novas pilastras, de referência, de saudade, de lembranças que, vez por outra, evocamos e isso traz sensações gostosas e confortantes.

Passa outro quinhão de tempo e até colamos seus retratos na parede, ou no coração, para admirar quando der vontade.

Então aquelas pessoas, reverenciadas com tanta veemência e carinho, parecem que nunca existiram, se tornam meras miragens de um passado que passou e ponto final.

Estando mortas, é como se fossem fantasias que a nossa imaginação esculpiu, fica difícil, de fato,

crer que um, dia falavam, respiravam, sentiam, conversavam com a gente e, pasme, viviam.

A morte faz que sejam apagados certos vestígios da sua existência.

Isso é cruel, desumano, maquiavélico até. Mas é fato.

O consolo é saber que tudo isso, num belo dia, também acontecerá com a gente e os nossos queridos, quem sabe, compartilhem da mesma constatação, nos guardando como meras miragens do passado.

E nada mais.

Curiosa mesmo a vida.

 

P.S. A segunda, da direita pra esquerda, é minha irmã e está viva

e o segundo da esquerda pra direita sou eu e estou vivo, até segunda ordem.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 26/01/2022
Reeditado em 26/01/2022
Código do texto: T7437536
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