MEU CAFÉ ESPRESSO
Minha cafeteria preferida, próxima ao meu condomínio, fechou. Eu não sabia e fui surpreendido com mesas e cadeiras amontoadas no recinto agora escuro e com a prosaica plaquinha onde estava escrito: "Fechado". Como faço todas as tardes, hábito que cultivo há muito com vistas à degustação de um bom espresso, para lá me dirigi todo animado, assobiando uma velha canção de Nelson Gonçalves que hoje, não sei por que, insistia em tamborilar na minha mente.
Vou sempre a pé à cafeteria, é pertinho, o trânsito normalmente segue leve, ocasionalmente alguns ciclistas repentinos me assustam, sim, e até às vezes fujo deles, mas é ocorrência casual, nada que comprometa a caminhada cotidiana. No caminho, passo em frente a uma pizzaria e uma hamburgueria, ambas apenas se preparando para a rotina iniciada após o crepúsculo. Não me chamam a atenção na verdade, menciono-as somente por diletantismo beletrista, bem assim também o posto de gasolina adiante, onde tem uma padaria na loja de conveniência e o cheiro de pão quentinho se espalha em derredor, lembrando-me que minha cafeteria predileta me espera. Então apresso os passos, pois lá comerei pão torrado na chapa regado com o espresso sem açúcar.
Mas a cafeteria está fechada, selada, escura, a calçada onde ficavam algumas mesas e cadeiras se apresenta deserta de gente e de objetos. Juntaram tudo num monte só no interior. Tomei-me de perplexidade, e, confesso, também de resquícios de tristeza, chocado ante essa visão de abandono. Naquele momento de inesperada surpresa ruim, o que me restava além de conjeturar sobre o que poderia ter acontecido e contribuído para o fechamento de minha cafeteria preferida? Ah, onde mais eu iria comer pão torrado na chapa com café espresso todas as tardes? Isso não se faz, claro que não pode ficar assim! Fica aqui bem expresso o meu protesto.