O DILEMA DE MALENA CAP IV

O Arnaldo Sansão, grosseiro como era, não tinha pretensões de artista era um simples campônio. Morava na casa velha do avô, ao lado da grande gamboa das dunas brancas entre a Beirada e o Cumbe. Vivia maritalmente com Matilde, uma santa, Testemunha de Jeová que era estéril, mas ele era viril e impulsivo, e por isso mesmo pai de vários bastardinhos extras como ele dizia. Para estes rebentos avulsos não pense que ele estava disponível como se costuma pensar na forma da lei. Decerto que algumas daquelas mães podiam processá-lo e se assim fosse, Sansão ia passar pelos crivos do DNA e ia ter que cumprir a lei, pagando pensões. Mas, era muito interessante, Malena não sabia de nenhum compromisso dele perante o juizado. Se é que era fato ele ter alguns rebentos por lá, Malena desconhecia, pois as mães dos tais filhos de Sansão não se propunham a cobrar dele alguma ajuda.

Sansão do alto da sua razão dizia que emprestava conselhos e exemplos para os seus descendentes, estes por saberem desde cedo que o pai não lhes dava guarida, tomavam seus rumos e logo se acostumavam a não contar com ele. Primeiro porque Arnaldo era rústico e dizia que se algum de seus filhos quisesse viver como ele não tinha problema. Podiam vir, um ou todos, recebia-os sem cara feia, mas soubesse de antemão que teriam de enfrentar no seu sítio e com ele a dura lida dos dias nas atividades manuais que eram seus ofícios. Tinham que dar duro, trabalhar no pesado, ali onde morava, não havia espaço para muita brincadeira não. Era preciso ir ao mato buscar e rachar a lenha, na casa velha havia um fogareiro jacaré e um fogão a gás, mas estes só eram usados quando ele estava ausente e se acabava a lenha. Havia geladeira na casa, mas a água era em pote ainda, e ele que era o dono do lugar não bebia água gelada. Quem viesse morar com ele tinha que aprender a pescar na gamboa, caçar na mata e tirar mel de abelha dos troncos. Arnaldo era sincero, não admitia nenhum filho seu vivendo de maneira diferente da sua, com costumes modernos dentro do seu lar.

Nos momentos de bebedeira ele falava como se dirigindo aos filhos ausentes: “Que fossem trabalhar, aqueles filhos de umas éguas, e agradecessem a ele por terem sido gerados por um homem de bem e destemido para o trabalho. Quem quisesse trabalhar seria feliz na vida. Que fossem estudar, hoje os colégios estavam até pagando para os sem vergonhas estudarem, davam curso profissionalizante e superior, alimentação e atenção rapaz, só não ia prestar quem não quisesse mesmo!”

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 25/01/2022
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