É muito louco e quase incompreensível o amor que a gente pega por estas pequenas coisas que criamos, as poesias. Algum tempo atrás senti um desgosto enorme: havia perdido um soneto. Procurei por toda parte, varri o computador e nada. O que mais dificultou a minha busca foi que eu não lembrava o título do soneto. Eu tenho um arquivo no PC onde guardo os poemas que escrevo, uma cópia de segurança, mas justamente este bendito soneto eu havia esquecido de salvar lá. Não era um soneto qualquer, era um daqueles que a gente separa quando faz uma seleção para mostrar a alguém, ou um candidato a uma futura presença num possível livro. Encontrei a foto que o inspirou, mas tinha certeza que não conseguiria repetir aqueles versos tão espontâneos. Nem acreditei quando, ontem, o encontrei em minha página no Recanto. Senti uma emoção, uma felicidade inteiramente desproporcional a um fato tão banal. Quem ler este meu desabafo, na certa irá pensar que se trata de um soneto fabuloso. Sei que não é, mas saiu de mim, é como um filho, e todo filho é maravilhoso aos olhos de um pai.
UM DIA EM SETEMBRO
Mês de setembro, séculos atrás,
Em terras de além-mar alguém partiu.
Anos antes deixara o Brasil
Com um aceno de adeus lá no cais.
Seu corpo jaz sobre brancos lençóis.
Por entre o dossel a triste visão:
Sobre o peito a cruz da devoção,
Como a sugerir: Orai por nós!
Rosto pálido, tranquilo semblante,
Como uma foto do último instante
Em que deu o suspiro derradeiro.
Assim nos deixou D. Pedro primeiro,
Aquele que deu o grito gigante,
E o orgulho de ser brasileiro.
Jota Garcia
D. Pedro I faleceu em 24 de setembro de 1834