PARA O CORAÇÃO DO MAR
Sou um simples observador da leveza da vida, vejo os detalhes do cotidiano, o bucolismo me chama a atenção, sinto-me apenas um mero cronista dos sentimentos, dos trejeitos das pessoas, das cores do dia e suas muitas nuances. Gosto de retratar com palavras o viver humano, de ver poesia nos sorrisos e nos pássaros, de pintar a rotina do tempo usando minhas próprias tintas transformadas em texto e contexto. Extasia-me recriar o dia a dia sob o ângulo de minha visão, muitas vezes vislumbrando, aqui e ali, pontos que se realçam e tonalidades a outros despercebidos, pepitas de coração e alma que se me mostram, mas se escondem de outros olhos menos acurados.
Flores brotando em grotas, jardins e asfaltos enquanto deslumbram beija-flores famintos, estrelas cadentes cortando o céu e despertando fantasias, casais de bentivis discutindo por razões misteriosas, gatos e cães de rua remexendo latas de lixo, bem perto ouço gargalhadas de frequentadores da cafeteria do bairro, adiante jovens estudantes, andando curvados, trocam mensagens no celular, carros velozes tumultuam o trânsito, cada acontecimento se torna mote para um artigo na tela de meu computador.
Tento transportar o rebuliço da vida para as crônicas despretensiosas, pondo no branco desprovido de vivacidade e vazio o preto das letras, unindo-as em vocábulos, e estes em palavras que formam meus singelos escritos. Que são assim, imagino, como os rios felizes que acolhem as chuvas e, correndo, levam as águas para o coração do mar.