Bolo ou briga?

Oito e meia da manhã. Friozinho, um ventinho soprando do Guaíba.

O quiosque é pequenininho, o café uma delicia. Tem um pequeno balcão, onde ficam expostos para apreciação e posterior degustação, salgados e doces.

O bolo de cenoura com cobertura de chocolate esta lá acenando todo faceiro para mim.

Ele esta se exibindo mesmo, todo sedutor, com aquela calda moreninha e o corpinho todo amarelo. Tento não olhar, mas é quase impossível.Alguma força maligna me leva sempre a procurar o balcão.

Agora ele está piscando!!! Eu juro não estou inventando não. Está piscando e sacudindo sua maciez bem na minha cara, sim. É o cúmulo da sordidez.

- Vou querer um bolo. Você quer? – Pergunto para meu marido.

- Não... Não estou muito a fim. – É sempre assim, ele nunca quer, e também nunca vê aqueles danados daqueles doces me seduzindo descaradamente. É completamente desmazelado com minha segurança e bem estar.

- Acho então, que também não vou querer... – Estou decidida agora, segurando com as duas mãos meu copinho de cafezinho.

- Então tá...- Responde meu marido com um sacudir de ombros, pouco se lixando .Ele dá dois passos em direção a saída.

-Mas se bem que agora...com este cafezinho...- Olho, implorando ajuda para tomar uma decisão, contando com ele para me arrancar da frente do balcão e me arrastar porta afora.

Desta vez ele só me olha, um pouco mais que entediado, Pelo o que conheço dele, depois de treze anos juntos, um inicio de irritação.

-Não, não vou querer. - me viro e saio para a rua. Ufa , decisão tomada.

Nosso carro está em frente à porta e meu marido encostado nele tomando seu café.

- Acho que depois vou ficar com fome....- Na verdade estou pensando em voz alta..O bolo maldito continua ao alcance do meu olhar e eu desta vez estou quase a ponto de cometer um homicídio. Minha intenção bem clara e ir até lá e detonar com ele.

- Não . Não , não vou querer.

Esta última frase acompanhada de veementes sacudidas com a cabeça, como se fosse necessário dar todas as ênfases de expressões para garantir a mim mesma que havia entendido. O bolo que fique lá!!!

- Moça?? Vou querer uma fatia de bolo. – Estou não sei como, estou parada em frente ao caixa, com a bolsa aberta, vasculhando a bagunça atrás da carteira. - Para viagem!