Poeta das ruas
Permita-me apresentar
Sou o poeta das ruas
Que vive a observar
As coisas leves e duras
Dessas coisas eu reciclo
Pra tornar belas palavras
Sentimentos de qualquer tipo
No movimento das águas
Vejo o velho na praça
Lendo seu alí o seu jornal
O palhaço a fazer graça
Vejo a aflição tão brutal
A menina a chorar
Por perder seu namorado
A criança a sorrir
Pelo brinquedo ganhado
Vejo o primeiro beijo
Na mais pura inocência
O homem vendendo queijo
Vejo o pai sem paciência
As flores a desabrochar
A grama que tá tão verdinha
O padre que tá a esperar
Os fiéis para sua missa
Vejo alí o engraxate
Que lustra o sapato no brilho
Vejo o bonde de tarde
E o assobiar de seu trilho
Vejo as damas da noite
A esperar os seus clientes
O frio que corta tal açoite
Vejo um bocado de gente
O poeta em seu abrigo
Com cobertor de papelão
Um mero e simples mendigo
A quem ninguém dá atenção.