"QUEM PRANTA CÓIE”

2021 morre daqui a algumas horas, para que nasça 2022. Me ocorreu que, acreditemos ou não, a energia circula. Para cada um de nós e para todos nós em conjunto, “a conta vem por debaixo da porta”, “dor de barriga não dá uma vez só”, “nada como um dia atrás do outro”, “aqui se faz, aqui se paga...” Há um sem-número de ditos populares que se referem à inevitabilidade das consequências de nossas ações. É a lei da ação e reação, a lei do retorno, pensada e discutida em diversos campos do conhecimento humano, da ciência à religião, entre as “bocas de Matilde” e ainda em nossos sonhos e pesadelos. Quem nunca? Me pergunto se 2021, que de um modo geral não foi um bom ano, pensou ou pensa, em se arrepender à hora da morte. Afinal de contas, se diz que um arrependimento sincero é sempre benéfico, ainda que não signifique que apagará tudo que se fez. Perdoar não é esquecer, mas pode significar a disposição para reconstruir, fortalecer, resgatar o que foi bom. É difícil encontrar algo bom na tormenta, mas se chegamos vivos ao seu final, vivos queremos continuar, mesmo capengas, desencantados, arredios, pouco dispostos ao duro trabalho de colocar em ordem a casa e os pensamentos. Morremos um pouco a cada dia e o exercício sincero de refletir sobre como vivemos não é algo fácil. Há muita coisa que deixei passar, tantas outras eu faria diferente, mas só o curso da vida me permitiu estar aqui para estas constatações. 2021 morre daqui a pouco, mas espero de coração que sua energia não se dissipe, mas se transforme em vida nova para o bebê que chega. Em esperança para as vidas que continuam, em aprendizado para os que desejam reconstruir, resgatar, perdoar e seguir em frente.

Obrigada a todos que contribuíram para que 2021 fosse suportável, apesar das tormentas, que me ensinaram novas formas de amar e de construir não apenas um ano, mas também um mundo melhor regando as sementes de um 2022 mais justo e mais saudável. Feliz ano novo.

Sorocaba, 31/12/2021.