DEPRESSÃO

Eu estava no consultório do dentista, tempos atrás, e a atendente me confidenciou que havia tido depressão e, na ocasião, tudo que ela queria era passar o dia todo deitada, chorando. No decorrer do problema, dia após dia, a mãe dela chamava para se alimentar, tomar banho, conversar com ela, oferecia ajuda, mas ela não atendia, não queria, ficava indiferente e continuava chorando, totalmente entregue à mais profunda tristeza. Enquanto a ouvia, eu ficava imaginando a mãe dela toda carinhosa e preocupada buscando proporcionar à filha total atenção e cuidados com vistas a tira-la daquela triste situação. Mas o que me chamou mais a atenção foi sua constante e sistemática recusa em ser ajudada. Então, conhecedor do caso de um amigo que vivia só e já passara pelo tormento da depressão, eu falei que ela não sabia o que era realmente essa angustiante enfermidade, pois tinha alguém, a mãe, que se importava com ela e estava ali ao seu lado o tempo todo, fazia tudo para ela, desde o café da manha, o almoço, a merenda e o jantar, que dava forças para ela, não saía do lado dela. Mas mesmo assim, apesar de ter o amor de quem se importava com ela, continuava chorando e deitada na cama. O meu amigo, por seu turno, ele mesmo me contou, não tinha ninguém, ninguém mesmo, e embora chorando e sem vontade de levantar ao amanhecer, precisava fazer isso de qualquer jeito, "na marra", para preparar a própria comida, lavar banheiros, varrer a casa, lavar a louça, lavar a roupa, tendo por companhia apenas suas lágrimas e o silêncio da solidão. Ao longo de sua depressão, até vence-la sem a ajuda de ninguém, ele não ouvia uma única palavra de conforto, nenhum a palavra amiga, nada. Somente Deus era por ele. E foi graças a Deus que logrou o alívio de ficar livre. Não, aquela jovem não sabia o que era depressão de verdade e nem o que é passar por isso sozinha sem se deixar vencer pela tristeza, abatida mas ciente de que se ela mesma não fizesse tudo por si mesma, pois não tinha ninguém por ela, ninguém mais faria. E a certeza de ser e estar só talvez fosse capaz de faze-la não se afogar num mar de lágrimas depressivas sobre uma cama desolada. Mas ela tinha a mãe, então não conheceu o mar da tormenta e entregou-se à desolação; meu amigo não, ou se virava sozinho, ou passaria fome em meio ao acúmulo de poeira e lixo e seria abatido pela intensa dor dos dias deprimidos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/01/2022
Código do texto: T7433130
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