Para ver tudo é preciso sair

Acabei de achar um texto manuscrito seu, datado de 2017. Você fala em adeus, fala em tristezas vistas em mim...

E não somos mesmos tristes nos ciclos da vida? Como sempre a tristeza subestimada, colocada como inferior. Das minhas tristezas sempre as gostei fundas e cruéis. Senti-las sempre me foi um processo desgastante, mas construidor.

No seu manuscrito vc fala em me deixar....me deixar para que eu seja feliz...

Eu confesso que não exergo altruísmo nisso, não agora, outrora eu via...

Agora eu vejo que independente de ser deixada ou não, eu nunca esperei nada p ser feliz, embora olhando p trás consiga perceber que a felicidade p mim foi se tornando um esforço...Lembrei que até uma carne, comprada, levada a léguas de distâncias encontrou portas fechadas, e eu bati, esperei, chorei p depois preparar tudo. Refiz algumas situações como essa da carne, e em muitas delas te encontrei dormindo...Como qndo no dia que não me atendias ou via minhas insistentes mensagens, fui te encontrar na calma de sono leve, e eu ofegante, desesperada.

O que eu vejo agora é um amor sofrido, e a data constata que ele foi sofrido desde o início...e olha, por mim tudo bem, eu sempre tive o amor como uma escolha diária, e escolher todo dia cansa mesmo...

Eu sempre tive o amor como algo difícil sim. Amar não é algo fácil, é limitação, experimentada e imposta.

Sim, amar passa sim por suportar coisas, os melhores livros e filmes mostram o amor como algo complexo e sofrido sim.

O que me faz voltar aqui...o que me faz ainda te reler é esse amor enfraquecido de presença, alimentado de lembrança que ainda ocupa meu peito, mas esse amor tá morrendo, tá ficando no lugar dele o luto, o sepultamento. É horrível jogar pás de areia em algo vivo. A tarefa que me coube foi matar o amor vivo em mim. Parece que desde o começo ou eu fazia a esse amor os atendimentos de socorrista, ou decidia de vez vê-lo morrer e o sepultava. Fiquei perdida sem fazer uma coisa ou outra...hoje eu me dei conta que de fato não mais preciso fazer uma coisa outra...resolvi fazer uma terceira coisa.

Resolvi me AMAR. Nunca gostei de funerais mesmo.

Vou parar de observar esses amores que prometem tudo diferente para no fim fazer tudo igual. Ir embora é msm e sempre será mais fácil. Ficar requer um panorama completo. Para ver tudo é preciso sair...mas p explicar é preciso voltar.

Suze Rodrigues
Enviado por Suze Rodrigues em 16/01/2022
Reeditado em 17/04/2022
Código do texto: T7430910
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