Muito prazer, eu sou Matias!
Eu também estava lá, às margens do rio Jordão, quando o Nazareno chegou próximo a João Batista e pediu para ser batizado. Ouvi quando João lhe disse que isto não seria necessário e que ele mesmo é que deveria ser batizado por Jesus, e não o contrário.
De início, não entendi muito bem o diálogo entre ambos, mas fiquei pensando na resposta de Jesus que disse: "Convém que seja assim, para que se cumpra toda a justiça!"
Qual teria sido o significado daquelas palavras? Qual justiça deveria ser cumprida?
Os dias foram passando, muito rapidamente até, e eu passei a integrar, embora no anonimato, o grupo de discípulos que acompanhava o Mestre por onde quer que ele planejasse ir.
Considerando toda a extensão da Palestina do meu tempo e tomando a cidade de Jerusalém como referência, durante cerca de três anos peregrinamos por toda a região no limite de aproximadamente 150 km de raio visitando cidades, aldeias, desertos e montanhas rochosas sempre à procura de pessoas que estivessem necessitadas e onde o Mestre pudesse minimizar, de alguma forma, o seu sofrimento e as suas carências.
Eu estava com Jesus quando dois antigos companheiros meus que haviam permanecido ao lado de João Batista chegaram até nós e, a mando do profeta perguntaram a Jesus: "És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro?"
Estávamos em Cafarnaum nesta ocasião. Jesus simplesmente chamou para si várias pessoas com necessidades físicas, curou-os a todos libertando também os que se encontravam espiritualmente oprimidos e lhes disse: "Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram. Pessoas estão sendo restauradas e as boas novas estão sendo anunciadas aos pobres. Feliz é aquele que não vê dificuldade em me aceitar."
Com a saída daqueles, o Mestre nos reuniu para dizer que, dentre os nascidos de mulher, ninguém havia maior do que João; todavia, o menor no Reino de Deus era maior do que ele.
Demorei para compreender isso, mas, finalmente cheguei à conclusão de que ele falara isso a seu respeito, pois tendo deixado a glória que desfrutava com o Pai tornou-se Homem e veio a este mundo para servir e não para ser servido.
Isto equivale dizer que Jesus tornou-se menor no Reino de Deus ao se fazer homem, como nós, mas que por isso mesmo, por sua abnegação em servir a outrem, foi elevado a uma posição superior diante do Pai.
E não é isso que deve caracterizar-nos como cristãos?
Ainda em Cafarnaum, e eu estava presente enquanto Jesus falava à multidão, alguém lhe disse que a sua mãe e os seus irmãos estavam do lado de fora da casa e desejavam vê-lo. De imediato, Jesus apontou a sua mão em nossa direção e disse: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a praticam".
Portanto, seguir a Jesus e ser um discípulo d'Ele implica, conscientemente, em manter compromisso com os seus ensinamentos e prática de vida que transforma outras vidas.
Muitos dias se passaram. Eu poderia relatar tantas outras ocasiões vividas e experienciadas na companhia de Jesus, mas, certamente não haveria espaço para transcrever tudo quanto vivi naqueles dias. Foram inúmeras as vezes em que pude acompanhar bem de perto, e insisto dizer que foi no mais absoluto anonimato, todo o ministério terreno de Jesus até à sua morte e mais importante que isso, até à sua ressurreição.
Eu estava lá, no Monte das Oliveiras, quando Jesus foi elevado às alturas e foi recebido nos céus. Eu vi e ouvi quando aqueles dois personagens surgiram do nada para nos dizer que aquele mesmo Jesus que vimos desaparecer nas núvens, um dia voltaria para nos reunir em um único corpo e, assim, estaríamos para sempre com Ele.
E foi exatamente por tudo isso que relatei a você, que os discípulos do colégio dos onze, uma vez que o Judas Iscariotes já não se encontrava mais vivo entre nós, pois se suicidara por causa do remorso de ter traído e vendido Jesus, decidiram substituí-lo para completar o colégio dos Doze discípulos conforme escolha definida pelo próprio Mestre.
Diante de uma pequena congregação de 120 pessoas, José Barsabás conhecido como Justo, e eu, fomos apresentados como candidatos a assumir o lugar de Judas Iscariotes. Após oração, lançaram sortes, exatamente como o Sacerdote fazia no templo com o Urim e Tumim para decidir questões de difícil julgamento, e a sorte recaiu sobre mim.
A partir daí deixei o anonimato e passei a ser reconhecido pelos outros onze discípulos mais próximos do Mestre.
Alguém poderia perguntar se eu nunca havia me ressentido do fato de jamais ter sido convidado por Jesus para exercer esta ou aquela função no colegiado, mesmo sendo tão persistente e dedicado em acompanhá-lo durante os três anos do seu ministério!
A minha resposta é a mesma que aprendi com o meu Mestre quando ele lavou os pés dos seus discípulos naquela última Ceia antes da sua prisão e morte. Disse ele: "Se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz".
Seguir a Jesus implica no reconhecimento de que Ele é o Mestre e Senhor. O seu exemplo de vida servindo aos outros, deve ser o padrão para todos quantos queiram servi-lo e andar com Ele no dia-a-dia.
No Reino de Deus, todos somos servos uns dos outros. Não pode haver, entre os que se identificam como cristãos, essa hierarquia espúria construída pelas instituições religiosas do nosso tempo, em que lideranças se consideram acima de qualquer suspeita para permanecerem no poder institucionalizado, escravizando consciências de pessoas simples para se locupletarem de bens que satisfaçam a sua ganância e seus interesses.
No reino de Deus não há espaço para a arrogância, para o ufanismo, e nem mesmo para o "mi-mi-mi" que caracteriza o comportamento egoísta e até insano dos que se julgam superiores aos outros na hierarquia controlada pela soberba.
Eu sou Matias, reconhecido apóstolo de Jesus, e a minha primeira mensagem para você que me lê pela primeira vez é esta: fuja da hierarquização religiosa do seu tempo e passe a andar apenas com Jesus.
Ninguém, a não ser Jesus, e isto por meio de um relacionamento pessoal com Ele mediante a fé, pode produzir em você o poder para crer, a disposição para viver com Ele e a satisfação de realizar na sua vida o que Ele realizou na vida de centenas de milhares de pessoas que, como você e eu buscamos a compreensão do que é ser, de fato, um cristão.
Deus te abençoe!
Pr. Oniel Prado
Verão de 2022
16/01/2022
Brasília, DF