O mar, as conchas e ela

"Olha mamãe essa tá quebrada! Tem que enterrar! Toma!"

Ela catava conchinhas na beira do mar. Corria e me entregava um punhado de conchas em suas mãozinhas.

"Essas estão faltando uma "página" mamãe, vamos enterrar. As boas a gente guarda." Botava a conchinha na areia, jogava um pouco em cima e dava duas batidinhas finais pra selar o enterro. Com ela eu aprendo valiosas lições de vida. O que é quebrado nós não descartamos de qualquer forma, nós sentimos a dor da da perda e enterramos, sem esquecer que um dia já foi bonito porém não nos serve mais. Reverenciamos as páginas quebradas e dizemos a elas adeus. O que é inteiro e bonito nós guardamos e damos um significado lindo, num lugar especial onde iremos olhar e lembrar de não esquecer que há beleza em viver, mesmo quando algo se quebra ainda existem partes inteiras a serem celebradas.

Corria pro mar molhava a barra da bermuda entrando além da margem, ela queria procurar as que estavam mais distantes, apesar de ter milhares de conchas pela areia e perto da beira. Ela ficava lá abaixada, olhando através da água lá embaixo, seus olhinhos procurando aquelas diferentes, com cores, formatos variados, formas quebradas que um dia já foram belas e formas completas.

"Vamos fazer uma colagem com elas, toma, essa é grande e preta por fora e toda colorida igual um arco íris por dentro, é a sua mamãe. Essa é pequena e branca com uns coloridos por cima, é a minha."

O céu estava azul com quase nenhuma nuvem, o vento do verão era fresco e balançava seus cachinhos soltos. Eu olhava pra ela e pensava em quantas vezes seu sorriso e sua felicidade simples me surpreendiam e me acalmavam num dia ruim. Os problemas perdiam a importância, as coisas de adulto como ela dizia, ficavam em segundo, terceiro e último plano. Seus olhinhos sempre a buscar os meus com uma alegria doce e pura. Ao irmos embora ela se despede do sol, da tchau para os pássaros, agradece as árvores pela sombra e o céu pelo vento gostoso. Não sei o que será de nós, mas sei que sua mão sempre estará segurando a minha. Sempre vou querer sentar ao seu lado na areia pra ouvir seus ensinamentos e quando tiver sol levarei ela pra beira mar, catar conchinhas e fazer um colar.

emillybuscaroli
Enviado por emillybuscaroli em 15/01/2022
Código do texto: T7430293
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