SORRIEM-ME AS FLORES
Suponho que as flores sorriem, pois quando eu passo elas defloram as pétalas, exalam um fragrante perfume e parecem sassaricar eufóricas. Provavelmente existe alguma conexão sobrenatural que nos liga e nos aproxima, algo muito além de minha tosca compreensão, o que, naturalmente, me encanta e toca o mais recôndito de minha alma.
Tenho por mim ser a poesia o precioso elo que nos une, o qual, mesmo invisível e abstrato, se torna quase palpável, dado aos olhos como um relâmpago ilumina pós instantes a noite escura. Por óbvio, impossível ve-lo, porém dele me apercebo por um sexto ou sétimo sentido sempre aguçado quando caminho por jardins floridos.
As flores são componentes vivas do ruge-ruge natural e do equilíbrio da biodiversidade, inertes mas sensíveis aos poetas, às crianças e aos insetos polinizadores, a eles se entregando prontamente tão-logo sentem suas presenças nesses momentos telúricos. Definir essa maravilhosa interação como haverei de? Os mistérios insondáveis continuarão assim, não se permitem abrir à condição humana.
À parte desse horizonte obscuro, amo as flores e por elas sou amado, e isso me basta. Quem perguntaria à amada por que ela o ama? Que sentido faria perscrutar os motivos do amor? Usufrui-lo enquanto dura é suficiente, refugo as indagações pueris e as razões desnecessárias. Permanecerei enamorado delas, admirando seus sorrisos e inebriando-me com seus olores.