DESAFETO DO AMOR

Nesse fim de semana, mais precisamete no sábado, enquanto aguardava minha vez para pagar 05 (cinco) pães, numa pequena fila na padaria do meu bairro, ouvia uma conversa de dois senhores que próximo a mim, tomavam o café da manhã. Não me tomem por fofoqueiro ou algo assim, mas ante àquela conversa, desviei-me da fila e, não obstante, sentei-me próximo aqueles senhores para tomar um suco.

Engraçado como as coisas em nossa vida têm um nexo de causalidade tão forte e, muitas vezes, não percebemos. Escrevo isso, pensando no milagre da multiplicação dos pães, outrora efetivado pelo Grande Mestre. Não à toa que me encontrava dentro de uma padaria, em que se faz milhares de pães por dia para servir de alimento ao corpo.

O que aqueles senhores diziam não era outra coisa senão o alimento da alma, do espirito e da mente. Falavam do verdadeiro amor! Um deles chamou-me mais atenção devido sua persistência em dizer que duvidaria de que houvesse alguém na terra, que nunca conseguiu amar alguém!? Segundo ele, isso era quase que uma sentença de última instância, é dizer, fato incontestável. Já o outro, muito mais observador e frio dizia que, ainda que os homens amem uns aos outros, são poucos os que estão prontos para viverem o verdadeiro amor!

Era intrigante e emocionante tal discussão. Nunca vi igual, nem quando torcedores de times rivais começam a discutir.

Aqueles senhores estavam duelando em palavras não trivialidades, mas aspectos sublimes, ligados ao amor. Parecia que não havia ninguém naquele local, cada qual com suas ponderações e argumentações bem arquitetadas, diziam em voz bem acalouradas! Uma moça sentou-se próximo a mim, em seguida levantou-se, dizendo que trocaria de lugar, pois falar em amor logo pela manhã - haja saco! Pensei comigo: cada um com suas valorações, o grande "self service" da democracia intelectual. Para mim, estava ocorrendo um verdadeiro milagre disseminador de pães espirituais naquela padaria.

Pedi novamente outro suco, não que estivesse de ressaca, mas tinha um outro grande motivo para permanecer ali, ouvindo atentamente aquela discussão, melhor, aula, palestra, enfim, queria comer um pouco daquele pão.

Do nada, aqueles senhores se levantaram, cada qual pagou sua conta, despediram-se e tomaram rumos diferentes... E eu me dei por saciado, ou melhor, alimentou mais minha inquietude, minha vontade de amar. Uma frase bendita por um daqueles senhores marcou-me, qual seja:

"...é preciso deixar que nossa parte boa convença a outra parte "podre" que em nós, também, habita, que vale a pena o amor. Embora estejamos próximos do caos da podridão que é o capitalismo. Este sim, é o verdadeiro desafeto do amor."

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 19/11/2007
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