Juntos, mas Sozinhos
Tocou a campainha. Era minha tia trazendo doações para uma pessoa necessitada. Olhei nos olhos dela e queria falar sobre tudo, mas não consegui. Ouvi ela falar da vida, dos seus problemas e das plantas.
Acompanhei ela na rua pela beirada do sítio. Ela queria me mostrar o pé de maracujá. Realmente, estava muito bonito. Ela me deu uma muda de uma planta bem valiosa. Então, encontrei uma vizinha, falamos sobre banalidades.
Eu acho que grande parte da sensação de solidão não se vem de se estar sozinho. Na realidade, as companhias não são tão significativas quando não confiamos nelas para dizermos o que sentimos de verdade.
Quantas vezes você já respondeu: tudo bem. Enquanto, na verdade, não está tudo bem. Nem cabe se abrir para alguém sem se ter confiança necessaria. Vivemos cercados por pessoas mais sozinhos.
Talvez, eu até pudesse compartilhar os sentimentos, mas sinto que há verdades que são tão duras que me fazem querer preservar a inocência dos outros. E, talvez, as pessoas não acreditem totalmente em mim. Penso que se eu tivesse como escolher em acreditar, também escolheria não acreditar.
No entanto, não tenho escolhas. Eu perdi um pai que está vivo, talvez, seja difícil de entender. Eu sempre soube que meu pai era estranho, porém nunca imaginei que ele fosse capaz de ser tão atroz.
Eu fico pensando se algum dia, ele me amou. Quem sabe quando eu era uma garotinha. Quem sabe? Eu, realmente, não sei. Eu espero que o tempo me permita algum dia perdoá-lo, contudo, nunca confiarei nele.
Estamos todos juntos, mas sozinhos.