Calçados e a história da bota.
Não me considero uma pessoa de muitos calçados. Tenho os que considero necessários. Dois pares de tênis, um que caminho e outro que trabalho. Esse de trabalho já está em frangalhos de tanto ser usado, minha meta deste ano é comprar sapatos novos para trabalhar.
Tenho um par de sapato social que uso em casamentos, formaturas e situações importantes.
Um par de botas que uso em dias frios, mas particularmente em festas juninas com uma camisa xadrez.
Dois chinelos, um para dentro de casa e outro pra rua.
Duas sapatilhas, uma de pano e uma que ganhei xadrez com branco.
Uma sandália de salto, que uso raramente com vestidos longos.
Duas rasteirinhas, uma para passear e outra para trabalhar nos dias quentes.
Talvez eu tenha também algumas entulhadas na sapateira, as quais não consiga me desfazer nem usar.
Pensando bem, talvez eu tenha sim muitos calçados.
Mas nem sempre foi assim.
Quando eu era criança éramos (ainda somos), mas éramos mais, muito pobres. E praticamente toda a minha roupa era vinda de doação como os calçados.
Uma noite em que chovia muito, eu fui para a igreja e coloquei um par de botas que havia ganhado em uma dessas doações. Como minhas canelas eram finas, eu coloquei a calça por cima da bota, de modo que só aparecia o bico.
Então eu me lembro das crianças da igreja que tinham uma situação melhor que a minha, me lembro delas cochichando sobre minhas botas e rindo. Me senti constrangida a missa inteira. Eu não as culpo, sei que não fizeram por mal, talvez tenham, achado engraçado me verem com aquele calçado.
Hoje ao me arrumar para ir à missa chovia muito também, e meus dois tênis já estavam molhados, minha sapatilha de pano também não serviria para ir, só me sobrou a xadrez que eu havia ganhado. Eu uso-a pouco, pois penso que não combina comigo, além de fazer calo. Então na missa, ao olhar para meus pés me lembrei dessa história das botas. E agradeci por ter hoje o que calçar e poder escolher o que calçar.
Enquanto escrevo essa crônica de calçados, me lembrei também do dia em que o sapateiro me roubou duas sapatilhas e até hoje nunca mais as tive de volta. Mas essa é uma história para outra crônica.