Mire-se antes de julgar
Mariana mudou há pouco para uma cidade no interior de São Paulo. Logo na semana seguinte, precisando ir a um dentista, procurou indicação de um bom profissional com um casal de amigos que já residia há algum tempo por ali. Marcou consulta para o dia seguinte. Já na sala de espera, enquanto aguardava sua vez, distraía-se folheando algumas revistas quando, ao levantar os olhos, observou vários diplomas pendurados na parede da sala. Imediatamente, chamou-lhe a atenção o nome do cirurgião. Não podia ser!! Seria muita coincidência! Mauro Galhardo Tinto Furtado Jr. Esse era o nome de seu primeiro amor na adolescência. Seu coração disparou. Eram unga e carne, ou seja, não se afastavam por nada. Brincavam de "MM" Mauro/Mariana. Eram perdidamente apaixonados. Mas, surpreendida seu pai, militar, fora transferido para o nordeste. Tiveram que se mudar quase que de imediato. Mal teve tempo para despedidas. Deixou escola e amigos para trás, inclusive seu grande amor, levando a esperança de um dia se reencontrarem. Tanto tempo se passou e nunca mais tiveram notícias um do outro. Seria seu amado Maurinho, o dentista? Será que esse reencontro finalmente aconteceria, agora, após trinta e oito anos, dois meses e dez dias... Largou as revistas sobre a mesa e, por alguns instantes ficou a lembrar do passado e observava as tantas especializações ali, nos diplomas, espalhados na sala de espera. Explodia de emoção quando a recepcionista a chamou: Mariana, é a sua vez! Adentrou à sala, imaginando como seria o reencontro. Logo decepcionou-se. Não era o "seu" Maurinho. Aquele homem, gorducho, barrigudo, careca e tão acabado, definitivamente, de forma alguma, seria Maurinho... Nunca. O nome era apenas parecido. Um Homônimo, com certeza. Mas, mesmo não acreditando que pudesse ser Maurinho, já quase no final do odontograma, Mariana não se conteve e resolveu dialogar :
Ela - Você estudou no Dom Lucas, em Bertioga?
Ele - SIM! Respondeu o Dr Mauro.
Ela - 1964, Turma 201B ?
Ele- SIM! SIM! Respondeu ele, afirmando, também, com a cabeça.
Ela - Lembra de uma enchente, em 1965, que deixou os alunos ilhados até o dia seguinte?
Ele - SIM. E foi terrível !!
E, abismado com tantas perguntas, ele disparou:
Diga-me uma coisa - A SENHORA era professora de quê?
Jandiel
Jandira Leite Titonel