A volta de um anônimo
Entrei no Recanto das Letras nesse fim de ano com o objetivo de voltar a escrever textos para este site. Para minha surpresa todos os textos que escrevi com a minha antiga senha ainda estão lá, intactos. O último que eu escrevi estava marcado com a data de 30 de junho de 2010, ainda usando meu antigo nome de Irwing x. Aproveitei para apagar meu antigo nome e começar a usar meu próprio nome, Márcio, acrescido do X, que eu usava no nome anterior. Meu antigo nome me incomodava porque era pouco prático, principalmente quando contava a algum amigo ou parente que estava escrevendo textos e tinha de apresentá-lo. Também aproveitei para inserir já um novo texto, um artigo sobre um assunto envolvendo a apresentadora Eliana.
Depois de todo esse tempo fico pensando nestes textos que ficaram ali enferrujando, envelhecendo e penso que envelheci mais do que eles. Muito mais. Quando escrevi o último texto Lula governava o país e obtinha altos índices de aprovação. Depois disso veio a Dilma, as passeatas, todo aquele povo na rua xingando PT, o impeachment, a esperança de limpar o país da corrupção, as reformas do Temer, e finalmente a polaridade que elegeu Bolsonaro, como um espetacular fenômeno vindo da direita. Mas a coisa não parou aí: Bolsonaro se revelou um intolerante, e veio a covid, e toda essa sensação de apocalipse que eu nem quero ficar falando aqui, afinal todo mundo sabe do que eu tô falando. O chefe do executivo se revelou também um negacionista e perdeu popularidade. Mas ainda não é tudo: Lula que tinha sido desprezado, e atacado por boa parte da população do Brasil, e de também ter sido preso, agora está solto e lidera a campanha das eleições presidenciais, e muitos olham pra ele com esperança, embora ainda tenha quem o odeia. Parece maluquice não?
Por isso eu digo que envelheci bem mais que os meus textos, além de viver tudo isso, a minha vida particular teve muita coisa que me fez sofrer, que me frustrou, claro tive alegrias também, mas o sofrimento que passei ao perder pessoas importantes para mim nessa epidemia de covid me traz a sensação de ter envelhecido uns trinta anos e não dez desde o ultimo texto. Quanto ao que escrevi, acho que boa parte deles eu entendo que ainda serve para os dias de hoje (há os que ficaram datados, claro). Mas seu tivesse que reescrevê-los, eu não o faria com aqueles arroubos e entusiasmos, que hoje me soam excessivos, faria a isso mais consciente de que não sou lá grande coisa, não mais que um grão de areia perdido no Recanto das Letras. E o mais surpreendente é que essa sensação de ser apenas mais um, não me incomoda mais como incomodava há dez anos.