O amor do meu tempo era um amor diferente...

Não era um sentimento de "ficar", era de "estar"... sem preocupações de que o amanhã viria.

Não havia esse medo de envolvimento. Havia apenas o "sentir" absoluto em todas suas formas.

Meu primeiro amor eu tive com 21 anos.    

Encontrei-o num Baile. Cabelos claros, um sorriso iluminado, aproximou-se de mim e me tirou para dançar. Eu estava com um vestido verde comprido de cetim. Lembro que ele me apelidou de "Princesa de Verde"...

Com ele tive dias sucessivos de emoções. Talvez porque dentro de mim eu o via como aquele Príncipe Encantado que temos na imaginação.

Mas ele era diferente. Muito diferente dos tradicionais. Sempre dizia frases inesperadas, e fazia a vida nada rotineira.

Muito inteligente, sensível, mas uma sensibilidade diferente. Não gostava muito de mostrá-la em palavras. Mas seus gestos sempre diziam. Foi um namoro assim de "idas" e "vindas", mas com momentos muito intensos.

Embora eu tivesse 21 anos na época, eu era muito inocente. Sempre estava a beber suas palavras e a fazer poesias. A sonhar com o próximo encontro.

Todos os dias que ficamos juntos foi de uma surpresa inusitada, e para mim, um sentimento único, que hoje se tornou uma bonita recordação.

Deixo aqui uma poesia que fiz para ele naquela época.

 

 

PRINCESA DE VERDE

 

há anos luz
nem sei contar o tempo
talvez em duas mil luas?
eu tive o galho mais alto
de uma árvore gigantesca
que ficava na curva
de uma esquina
nesse tempo
eu tive também uma rosa
que permaneceu guardada
naquela roseira
que nunca foi arrancada
mas me foi dada por você
numa noite com luzes multicores
fui uma princesa de verde
quando meus sonhos
nasciam como flores
e quando os desenganos
nao doíam tanto
como doem agora
naquele tempo
havia uma clareira
onde nos beijávamos
até ficarmos sem ar
trocando juras de amor
como se não pudéssemos
nossa ausência suportar
havia versos de Neruda
ao som de "Goodbye Yellow Brick Road"
houve um tempo
que olhei com tanta angústia
o galho desta árvore
a flor naquela roseira
e a sombra da nossa clareira
hoje a sua ausência
tornou-se apenas um sopro
perdido num tempo longínquo
de adolescência

 

 

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 08/01/2022
Reeditado em 08/01/2022
Código do texto: T7424676
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