Playboys de Pitangui

Passados em revista, é bem provável que cada um - ou mais especificamente, cada uma - tenha a sua lista. Afinal, assim como havia fatores objetivos claros para se definir esse perfil, havia-os também de ordem, e até certa desordem, subjetiva. No tocante à sua situação temporal de sua maior visibilidade, embora também tudo seja muito fluido, podemos aqui assestar nosso teodolito demarcatório nas décadas de 60 e 70... mas isso tudo, não vos iludo, é meramente tentativo e um tanto pessoal.

Nesse período vi transformações profundas na nossa sociedade, que não deixava de refletir, de certa forma, o que se passava mundo afora, Elvis, Beatles, Stones, Woodstock, Jovem Guarda, emancipações, Blackpower, maior engajamento da Igreja a partir do aggiornamento de João XXIII, teologia da libertação...etc, etc, e, naturalmente, as transformações de que os hormônios se encarregavam...muito embora, cumpre-me assinalar eu estivesse muito mais propenso a me converter em prayboy do que playboy...

E o playboyismo, com todo o glamour que engendrava, tinha também uma carga de conotações pejorativas perante a sociedade...quiçá em razão direta de sua avassaladora insaciedade...com o statu quo, com as convenções, com os barbeiros ...

Tal como noutras cidades circunvizinhas, que eram mais facilmente observadas, o fenômeno surgiu, surtou, se contaminou e se espalhou como fogo no paiol... A contestação era um dos seus mais fortes pilares, e a ostentação não lhe ficava atrás...

E a moda, os modismos sartoriais, linguísticos e comportamentais se aliavam espontânea e exponencialmente ao conjunto, conferindo visibilidades que se egos satisfaziam, atribulações, não raro, traziam...

Vem aqui a vontade de declinar alguns nomes, mas temo cometer injustiça deixando outros tantos de fora desse elenco que ainda há de trazer muitas boas recordações... E assim, deixando aos leitores a oportunidade de nomearem ou escolherem os seus ídolos coetâneos, ânteros e pósteros, vou citar dois símbolos que incendiaram corações e mentes da cidade nos tempos inesquecíveis do ieieiê...: aquele Karmann-Ghia cor-de-rosa e aquela incrível parecença física com o Rei...e isso, sem contar o fascínio da indefectível Lambretta, que nunca deixava de evocar rimas para a eventual Julieta...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/01/2022
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