A CHÁCARA
O quadro está lá na parede. É uma pintura feita por minha mãe, aliás, uma das que mais gosto.
Mamãe retratou alguns elementos da chácara que ela e papai possuíam em Campina Grande do Sul e onde gostavam de passar horas felizes fazendo o que mais apreciavam: plantar, acompanhar o crescimento das árvores, arbustos, adubar, podar e colher os frutos. Encantavam-se ao ver desabrochar as flores do jardim e ao perceber que as Araucárias novinhas estavam crescendo saudáveis e belas. A horta e o cultivo de milho e feijão, em pequenas roças, também eram motivo de muita satisfação de sua parte.
Ambos já faleceram. Papai se foi antes de envelhecer de verdade. Mamãe sobreviveu a ele por mais de trinta anos, sempre dedicando um tempo alegre e proveitoso à chácara, envolvida com suas culturas. Ela nos deixou há poucos anos, bem idosa.
A propriedade pertence hoje a meu irmão Odilon, que fez dela um local de lazer, com bonita e confortável casa, uma construção para o caseiro, campo de futebol com gramado bem cuidado, quadra para outros esportes, belos jardim e pomar e outras melhorias. Ainda gosto muito do local mas pouco o visito hoje em dia.
Meu foco ainda está na paisagem do quadro, ao qual me referi no início desta crônica. A casa retratada por mamãe é a velha construção de madeira caiada, janelas marrons e pequena varanda cercada com ripinhas de madeira, tudo muito singelo e modesto, porém muito aconchegante. Ao fundo vê-se o galpão onde se guardavam as ferramentas e as sementes. A lembrança mais pungente, que o quadro me traz é a dos caquizeiros repletos de frutos, no outono, o chão forrado de folhas vermelhas e alaranjadas.
Entretanto, para mim, outra lembrança, a mais doce, é reviver a cena da família reunida, o churrasco que papai assava na churrasqueira improvisada, de tijolos, sob os caquizeiros, a mesa e os bancos toscos onde comíamos, entre risos e conversas. Dói não ter mais a presença de todos, felizes, com saúde, cheios de planos e esperança no futuro...
Para mim, hoje, a nova casa e a paisagem modificada, não têm o mesmo apelo, a mesma beleza, o mesmo aconchego. Fixei aquele ideal de felicidade e o guardo em minha memória e no meu coração. Nem os caquizeiros existem mais. Envelheceram, secaram, não deram mais frutos e foram substituídos por outras espécies. Porém, estão vivos em meus sonhos noturnos e lembranças.
Deve ser a saudade que me faz hoje tão melancólica...